29 novembro 2011

Cérebro de Pipoca

O analfabetismo emocional torna complicado o relacionamento interpessoal...

(Da assessoria)


(foto: divulgação)
 
 
Brasil - Um novo distúrbio tem chamado atenção: o “Cérebro de pipoca”, responsável por causar alterações químicas cerebrais e fazer com que suas vítimas passem a ter dificuldade de se concentrar em apenas um assunto e a lidar com coisas simples do cotidiano, como ler um livro, conversar com alguém sem interrupção ou dirigir sem falar ao celular. Esse novo fenômeno é atribuído ao movimento caótico e constante de informações e ao fato das pessoas passarem muito tempo conectadas por dia e a tocarem muitas tarefas ao mesmo tempo.

Para o psicólogo clínico e doutor em Neurociência e Comportamento pela USP, Julio Peres, o veloz mundo contemporâneo fornece poucos valores essenciais à vida em equilíbrio; enquanto, novas “necessidades” são artificialmente criadas a cada dia, imbuídas da falsa promessa de bem-estar. “Incentiva-se a pressa, a praticidade e o consumo imediato dos bens que, supostamente, aplacariam a angústia e a ausência de sentido para a existência. Assim, grande parte dos relacionamen­tos ocorre pela oferta dos meios ágeis de comunicação, que favorecem interface superficial com grande número de pessoas (redes de relacionamento via Internet), incitando contatos por interesse em vantagens imediatas e relações também descartáveis”, afirma.

E o resultado desse distúrbio, por causa da falta de foco, é o analfabetismo emocional, ou seja, a dificuldade de ler as emoções no rosto, na postura ou na voz dos indivíduos, tornando complicado o relacionamento interpessoal. E, segundo pesquisas, quem faz muitas coisas ao mesmo tempo tem mais dificuldade de concentração e de excluir as informações irrelevantes, além de sofrer mais de estresse.

“Hoje, as pessoas são ‘coisificadas’ sucessivamente como produtos, ao passo que os vínculos afetivos se tornam cada vez mais frágeis. Os indivíduos mudam de uma relação para outra repetindo os mesmos erros, reclamando dos mesmos problemas, perdendo oportunidades preciosas de desenvolvimento pessoal porque possuem mais dificuldade para lidar com as emoções. O que vemos, infelizmente, é um número crescente de pessoas que começam e terminam relações de forma virtual, evitando o enfrentamento dos sentimentos”, ressalta Julio Peres.

Curriculum Julio Peres
Professor titular de Psicotraumatologia Clínica – Hospital Perola Byington, Doutor em Neurociências e Comportamento pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e Psicólogo clínico. Fez Pós-doutorado no Center for Spirituality and the Mind, University of Pennsylvania e na Radiologia Clínica/Diagnóstico de Imagem pela UNIFESP. Autor dos dois únicos estudos Brasileiros que investigaram os efeitos neurobiológicos da psicoterapia através da neuroimagem funcional (Psychological Medicine 2007 e Journal of Psychiatric Research 2011). Possui artigos científicos publicados sobre trauma psicológico, psicoterapia, resiliência, espiritualidade e superação. Pesquisador do Programa de Saúde, Espiritualidade e Religiosidade (PROSER) do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. Autor do livro “Trauma e Superação: o que a Psicologia, a Neurociência e a Espiritualidade ensinam” editora ROCA. www.julioperes.com.br

(Danielle Flöter)
 
Acessado dia 29.11.2011 as 15.44
 
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22 novembro 2011

Mensagem de Fabiano Puhlmann sobre o Dia de Luta das Pessoas com Deficiência

DESEJOS - O DIA D
Brincando com Drumond e Inclusão


capa do livro "A revolução sexual sobre rodas - conquistando o afeto e a autonomia"
Autor: Fabiano Puhlmann

Desejo a vocês",cidadãos brasileiros com deficiência", o "Fruto do mato", proporcionado pelo turismo de aventura adaptado, com "cheiro de jardim, Namoro no portão", quando os governantes brasileiros passarem a assumir a responsabilidade sobre nossas calçadas, e pudermos ter acesso a namorar no portão da pessoa amada.

"Domingo sem chuva" e "Segunda sem mau humor", com acessibilidade, inclusão educacional e econômica, para podermos finalmente ter o "Sábado com nosso amor"!

"Filme do Carlitos" e "Chope com amigos" porque agora temos táxi adaptado e em um Brasil pós Copa , Olimpíadas e Para-Olimpíadas todo o transporte público integrado e acessível, poderemos voltar "alegres" para casa sem risco de acidentes.

Ler "Crônicas de Rubem Braga" e outras crônicas que abordem temas da vida privada de pessoas com e sem deficiências.

Viver sem inimigos porque os direitos humanos são respeitados. Assistir a "Filmes antigos na TV" com legenda em LIBRAS e audiodescrição.

Ter uma pessoa especial que...goste de você, que não seja sua mãe, irmã e nem amiga eterna, alguém que te veja como homem/mulher desejado para o enamoramento, a paixão e o amor.

"Música de Tom com letra de Chico", unindo diversidades no orgulho de sermos todos brasileiros, mesmo que as vezes fora do tom e levando vidas fora da praia e sem poesia, lutando para levar uma vida digna na selva de pedra.

Ai que saudade, que nostalgia sinto quando me lembro do "Frango caipira em pensão do interior", o interior hoje de universidades acessíveis que fazem a inclusão de todos na mesma cultura sem perder o tempero e a camaradagem do tempo de nossos avós.

"Ouvir uma palavra amável" logo de manhã na rua quando atravessamos o farol na faixa com nossas cadeiras de rodas, bengalas de cegos, nossa baixa estatura, ou nossa face diferente.

"Ter uma surpresa agradável" quando ao chegarmos no trabalho ou na escola, lembrarem nosso dia, o dia internacional de luta pelos direitos das pessoas com deficiência.

"Ver a Banda passar" ao vivo e não pela televisão, assistir os fogos de fim de ano no gargarejo, ir ao desfile das campeãs do carnaval e ficar em arquibancadas inclusivas, assistir a todos os shows que quisermos sem ter de planejar demais.

Desejo continuar a me emocionar com "Noites de lua cheia", lembrar que somos um planeta redondo e azul, cheio de esperança em forma de seres humanos com culturas, cores, línguas, condições de vida muito diferentes.

"Rever uma velha amizade", procurar alimentar as amizades mesmo que através das mídias digitais, redes sociais se unindo, quebrando barreiras entre o passado e o futuro. Podemos reencontrar, no mundo virtual aquela velha amiga que teve um filho com deficiência intelectual, aquele antigo amor que ficou cego após um acidente, podemos conversar, finalmente, com aquele amigo surdo, trocando intimidades e relembrando que o maior prazer de todos é ter amigos.

"Ter fé em Deus" não por desespero, mas porque isto é natural.

Não ter que ouvir a palavra 'não' repetidas vezes, exaustivamente em propagandas idiotas que, de forma tola, tentam sensibilizar pessoas para entender outras pessoas com "paralisia cerebral" a partir de suas limitações e não a partir de suas potencialidades.

"Nem nunca, nem jamais e adeus", até breve e... talvez...eu me apaixone novamente... dentro de mim algo novo nascer, fincar raízes, desligado de minhas certezas de meu mundo conhecido, poder lembrar de lágrimas caindo no meu peito, dores, medos, angústias e verdades. Não tenhas medo de mim...

"Rir como criança" porque somente elas sabem de fato, elas, dentro de nós, são os modelos de felicidade e não tem medo de nada!

"Ouvir canto de passarinho" do amanhecer ao entardecer.

Não perder a juventude mesmo quando os anos chegarem ao auge, quando as dores, a falta de memória, as dificuldades motoras nos assolarem a porta.

"Sarar de resfriado", saber que cada vez mais estamos próximos de um mundo com poucas doenças incuráveis.

Deficiências e incapacidades são hoje vistas como funcionais, dependem do meio e principalmente de atitudes.

"Escrever um poema de Amor", montanhas de mistérios por trás de olhos fascinantes, um misto de promessas realizadas e grandes desafios do amor, "Que nunca será rasgado". Parar de buscar obsessivamente a ilusão de "Formar um par ideal" e aceitar melhor o imperfeito, o possível, o necessário e o provisório.

Mas, enquanto isso, desejo também que todos possam "Tomar banho de cachoeira" com trilha acessível, "Pegar um bronzeado legal" enquanto andam de triciclos, handbikes e bikes adaptadas.

"Aprender uma nova canção", porque muitas das velhas canções escondem preconceitos que já não tem mais graça.

"Esperar alguém na estação", ter alguém para nos esperar, ter alguém para buscar, porque toda pessoa com deficiência quer amar e ser amado.

"Queijo com goiabada", resgatando o deslumbramento que causa a convivência com os opostos, novos e velhos sabores, que ao se misturarem criam uma inusitada sensação.

"Pôr-do-Sol na roça", prenúncio de baladas à moda antiga, "Uma festa", onde a pegação ,se houver, é para todos!

"Um violão" ,"Uma seresta", para que um dia no futuro nos recordemos de quando fomos jovens e tolos e nada inclusivos.

E, com muito respeito ao grande Carlos Drumond de Andrade, agora deixemos que o próprio poeta complete para nós sua poesia

 Desejo...

"Recordar um amor antigo,
Ter um ombro sempre amigo,
Bater palmas de alegria,
Uma tarde amena,
Calçar um velho chinelo,
Sentar numa velha poltrona,
Tocar violão para alguém,
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco, Bolero de Ravel,
E muito carinho meu.
por Fabiano Puhlmann Di Girolamo
Fonte: The efficient

In: http://blogdaaudiodescricao.blogspot.com/2011/11/mensagem-de-fabiano-puhlmann-sobre-o.html#comment-form . Acesso dia 22.11.2011
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21 novembro 2011

Melhorando a Saúde com mais neurônios


Durante décadas foi senso comum acreditar que os neurônios, as principais células que compõem o cérebro, eram apenas produzidos durante a gestação e no começo da infância, e só. De acordo com este dogma, havia pouca esperança de se repor os neurônios perdidos pelo envelhecimento, por acidentes ou por doenças.

Há quase 20 anos foi descoberto que o cérebro adulto continua a produzir novos neurônios ao longo da vida – fenômeno chamado de neurogênese. Já havia relatos de neurogênese especialmente em aves, mas a demonstração de que isso ocorria em humanos revolucionou as neurociências, provocando uma mudança de paradigma. Atualmente, há indícios de que os neurônios continuam a se formar mesmo em idosos afetados por doenças degenerativas do cérebro, como o Alzheimer.

Diversos estudos têm sido publicados ultimamente, cobrindo desde o papel que os neurônios recém-nascidos podem ter na formação da memória, até as diversas atividades que podem alterar sua produção. Então, com base nessas últimas evidências, como podemos aumentar a produção de neurônios e como isso pode melhorar a saúde?

A produção de neurônios não ocorre de forma constante, sendo influenciada por uma série de fatores ambientais distintos. Por exemplo, o consumo de álcool tem mostrado que retarda a produção de novas células nervosas. Por outro lado, ela pode ser estimulada através de exercícios físicos. Foi demonstrado que camundongos que faziam exercícios produziam o dobro de neurônios do que os sedentários.

Mesmo utilizando de artifícios para produzir mais neurônios, não significa que os mesmos estarão disponíveis. A maioria deles morre em poucas semanas, como geralmente ocorre com outras células do nosso corpo. Porém, pesquisas com camundongos têm demonstrado que se os animais forem desafiados cognitivamente, essas células nervosas vão sobreviver. É como se o cérebro fabricasse novos neurônios para a eventualidade de precisar deles.

O interessante é que as pesquisas indicam que quanto mais difícil for a tarefa a ser realizada, maior a quantidade de neurônios que sobreviverão. Também indicam que é o processo de aprendizagem, e não apenas o desafio, que garantem essa sobrevivência. Então, se não houver o aprendizado, o desafio será em vão. Além disso, quanto mais tempo demorar para o aprendizado ocorrer, mais neurônios serão retidos, o que aparentemente significou um maior esforço.

A maioria das pesquisas é desenvolvida com animais de laboratório. Então, o que aconteceria com um ser humano se ele parasse de produzir novos neurônios no hipocampo? A medicina moderna, infelizmente, nos oferece uma população de “cobaias” prontas: pessoas que estão fazendo tratamento de quimioterapia. A quimioterapia afeta o processo de divisão celular necessário para a geração de novas células. Portanto, não deve ser coincidência que pacientes sob tratamento quimioterápico geralmente reclamam de dificuldade de aprendizagem e memória, uma síndrome também conhecida como “quimiocérebro”.

Podemos resumir essas principais descobertas em alguns conceitos simples:

• Milhares de novos neurônios são produzidos no cérebro adulto todo dia, particularmente numa região chamada de hipocampo que afeta os processos de aprendizado e memória.

• Em poucas semanas, a maior parte desses novos neurônios morrerá, a não ser que o cérebro seja desafiado a aprender algo novo. O aprendizado efetivo, especialmente o que requer um grande esforço, pode manter esses novos neurônios vivos.

• Apesar dos novos neurônios não serem essenciais para boa parte da aprendizagem, a sua falta pode afetar o processo de aprendizagem e a memória. Portanto, estimular a neurogênese, pode auxiliar na redução do declínio cognitivo e manter o cérebro em forma.

Então, comece já a se engajar em atividades que estimulam a produção de neurônios, como exercícios físicos, e em atividades que desafiem seu cérebro e resultem em aprendizado, garantindo a sobrevivência desses neurônios, como o estudo formal ou os exercícios  especializados. Desta forma, você aumenta as suas reservas cerebrais e fica mais resistente ao declínio cognitivo e a doenças neurodegenerativas. Como os neurônios continuam a se multiplicar até o final da vida, nunca é tarde demais para começar a formar essa reserva. E, também nunca é cedo demais para começar, pois terá mais tempo de formar uma reserva maior.





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18 novembro 2011

Animais, meus próximos

Inspirado por um estudo sobre o aumento da procura por atendimento terapêutico para bichos de estimação, Luiz Fernando Dias Duarte aborda em sua coluna deste mês os processos que permeiam as relações modernas entre os seres humanos e os animais.

Por: Luiz Fernando Dias Duarte



A sociedade moderna vive um processo em que os animais de estimação são cada vez mais  aproximados da condição humana. (foto: Flickr/ adwriter – CC BY-NC 2.0)

Entre os muitos enigmas da condição humana, encontra-se o de suas relações com os demais seres do mundo, particularmente aqueles que consideramos como “vivos” e, dentre estes, com ainda mais premência, aqueles que são chamados em nossa cultura de “animais”.

Entre os muitos enigmas da condição humana, encontra-se o de suas relações com os demais seres do mundo

O humano, imerso como é nas conexões gerais da natureza, deve construir sistemas de significado em que sua continuidade e sua descontinuidade dentro delas sejam tematizadas, elaboradas, vivenciadas. Essa trama de sentido é a tarefa básica de cada cultura, a estrutura mais fundamental de toda visão de mundo, e assume formas muito diversas, com implicações fenomenológicas de imensa riqueza.

Em julho, durante a IX Reunião de Antropologia do Mercosul, no grupo de trabalho sobre antropologia e medicamentos  foi apresentada por Jean Segata, pesquisador do Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí, uma instigante etnografia de uma clínica veterinária de Rio do Sul, em Santa Catarina. Seu título é ‘Tristes amigos. A medicalização de animais de estimação’.

No estudo, Segata apresenta uma situação de intenso crescimento da demanda por atendimento terapêutico a animais domésticos, particularmente em relação a diagnósticos de depressão ou ansiedade canina. Descreve os processos socialmente aprendidos de reconhecimento dessa condição, em que novos roteiros terapêuticos se desenham, envolvendo a sociabilidade entre humano e animal, a alimentação, a sexualidade e – no limite – o consumo regular de medicamentos psicotrópicos.

Estudo realizado em Santa Catarina chama a atenção para o aumento do número de animais domésticos levados para receber atendimento terapêutico, especialmente para depressão e ansiedade canina. (foto: Gabriella Fabbri/ Sxc.hu)

É notável o paralelismo entre as perturbações psicológicas humanas e as caninas que se vai construindo na imaginação social, acompanhando um processo de antropomorfização dos animais de estimação já longamente reconhecido como característico das transformações modernas da família e da pessoa.

Essa antropomorfização é ainda mais notável porque a cultura ocidental moderna se caracteriza por uma cisão particularmente acentuada entre a humanidade e a animalidade, decorrente das transformações cosmológicas emergentes no início da modernidade, com a afirmação do caráter mecânico do universo, passível do tipo de conhecimento e intervenção que conhecemos sob a forma da ciência e da tecnologia.

Os animais, que tinham compartilhado com os humanos degraus próximos na criação, no modelo medieval da ‘grande cadeia dos seres’ (segundo o qual o mundo é apresentado como uma série contínua e progressiva de entes), foram os mais afetados por esse processo de cisão, relegados a uma posição distante dos portadores da razão iluminista – como máquinas movidas por cegos ‘instintos’.
Animais de estimação

Por outro lado, a concomitante incitação à privacidade e ao intimismo doméstico, associável à transição da vida na corte e da hegemonia aristocrática para o mundo burguês, ensejou a generalização da passagem dos animais domésticos (em que a proximidade afetiva ainda estava ligada a funções práticas ou de prestígio) a ‘animais de estimação’, importantes apenas pelo aconchego afetivo propiciado a seus donos.

Essa nova categoria vem assumindo notável importância em todas as sociedades modernas, o que é evidenciado pelos sinais de assimilação à condição humana, entre eles, o consumo dos mesmos medicamentos.

As demais espécies animais, longamente exploradas ou devastadas pela espécie humana, mereceram outro rumo imaginário, decorrente das denúncias românticas contra o império da razão mecanicista. A partir de meados do século 18, começaram a surgir as primeiras preocupações ecológicas e as primeiras inquietações com o desaparecimento de espécies e o abuso dos animais.


A partir do século 20, estruturou-se um movimento de proteção aos animais, que estende a eles os direitos de igualdade e liberdade atribuídos aos seres humanos. (foto: Erin Pettigrew/ Flickr – CC BY-2.0)






Mas foi apenas no século 20 que se estruturaram formas institucionais e legais de ‘proteção aos animais’, hoje muito generalizadas, como atesta a aprovação de uma Declaração Universal dos Direitos dos Animais, pela Unesco, em 1978.

Essa linha pública e oficial de proteção segue os moldes do universalismo ocidental moderno, estendendo os direitos de igualdade e liberdade aos seres que compartilham com os humanos sua condição vital, seja sob a forma de espécies ou de exemplares individuais.

A linha das experiências privadas, que envolve sobretudo os animais domésticos presentes nas residências dos habitantes das cidades, segue por outra direção, mais integrada, passível de elaborações ‘afetivas’ e de um regime de trocas considerado caloroso e enriquecedor.
Relações essenciais

Essa segunda vertente apresenta possibilidades de comparação muito interessantes, por se apresentar mais próxima, sob certos aspectos, do modo mais entranhado com que as outras culturas elaboram a relação dos humanos com os demais seres vivos.

Prevalecem nelas outros recortes e dinâmicas cosmológicas, com mudanças de estatuto extremamente complexas, metamorfoses e deslizamentos de múltipla ordem e fundamental importância. Lembremo-nos de nossos ‘contos de fadas’, que retêm sinais dessas outras visões de mundo, com princesas, anões e heróis deslocando-se entre formas relacionais de animalidade e de humanidade.

Há hoje diversas frentes de pesquisa e interesse antropológico nessa seara. Os estudos vão desde a descrição e análise das classificações culturais do mundo natural (as ‘etnociências’) até a discussão dos pressupostos epistemológicos e ontológicos (relativos à natureza do ser) que subjazem às nossas representações sobre realidade, natureza e animalidade.

O sonho de uma comunhão vital entre humanos e animais, libertada das constrições racionalistas de nossa cultura, permanece pulsante

O antropólogo francês Philippe Descola (1949-) chamou de “naturalista” o modo como se articula o modelo nativo do Ocidente, contrastável com uma série de outros modelos etnograficamente reconhecíveis, em que relações de reciprocidade, predação e dádiva podem prevalecer. Na visão de mundo naturalista, a natureza é uma dimensão da realidade, externa e independente do sentido, do interesse e da ação dos humanos, que com ela se relacionam de fora e à distância (mesmo em relação à parte de si mesmos que se considera ‘natural’ por ser ‘animal’).

O sonho de uma comunhão vital entre humanos e animais, libertada das constrições racionalistas de nossa cultura, permanece, porém, pulsante nessa fronteira tênue entre o processo da pesquisa etnográfica e a imaginação de nosso futuro.

“Assim como o indivíduo não está só dentro do grupo e cada sociedade não está só entre as demais, o homem também não está só no universo”, lembra o antropólogo francês Claude Lévi-Strauss (1908-2009), na última página de seu Tristes Trópicos. E evoca uma possibilidade de contemplação da “essência do seu ser”... “no piscar de olhos pesado de paciência, de serenidade e de perdão recíproco que um acordo involuntário permite às vezes trocar com um gato.”

Luiz Fernando Dias Duarte
Museu Nacional
Universidade Federal do Rio de Janeiro

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10 novembro 2011

Neurônios Espelhos

                        Post retirado do site: reabilitaçãocognitiva.org

Mais de vinte anos atrás, uma equipe de cientistas, liderados por Giacomo Rizzolatti da Universidade de Parma, descobriu em macacos células especiais no cérebro, chamadas”neurônios-espelho”. Estas células pareciam ser ativada tanto quando o macaco fazia algo em si e bem como quando o macaco via outro macaco fazer a mesma coisa.

A função dos neurônios-espelho em seres humanos desde então se tornou um tema popular. Na edição de Agosto da revista Perspectives on Psychological Science, uma equipe de pesquisadores debateu se o sistema de neurônios-espelho está envolvida em diversos processos, tais como a fala, a compreensão, a compreensão do significado das ações de outras pessoas, bem como a compreensão da mente e das intenções de outras pessoas.

Quanto a compreensão da fala….

O sistema de neurônios-espelho, provavelmente, desempenha algum papel na compreensão da fala de outras pessoas, mas é provável que esse papel seja muito menor do que se afirmou em estudos prévios sobre o tema. No artigo discute-se que os processos dos neurônios-espelho relacionados com essa capacidade só podem contribuir para compreender o que outra pessoa está tentando dizer se o ambiente é muito barulhento ou há outras complicações às condições normais de percepção da fala.

Quanto a compreensão das ações….

Neurônios-espelho têm sido citados como participantes na compreensão da forma como as ações são executadas e os motivos de outras pessoas as estarem realizando. Há muitas ações físicas em determinadas atividades, como as que faz um jogador de golfe, e embora a maioria de nós não realize esses movimentos, entendemos essas ações de qualquer maneira.

Alguns estudiosos de neurônios-espelho têm sugerido que não necessário saber fazer para o entendimento da ação. Inclusive, dados de neuroimagem analisados ​​nesse artigo da Perspectives on Psychological Science demonstraram que as ações que nós mesmos temos mais experiência – as ações que executamos e entendemos melhor – na verdade são as que requerem menos atividade dos neurônios-espelho.

Quando a compreensão da mente do outro…

Um dos papéis mais poderosos sugerido para o sistema de neurônios-espelho nos seres humanos é não só o entendimento de ações físicas ou do discurso, mas das suas mentes e de suas intenções.

Tem sido sugerido que algumas pessoas, como as pessoas com Autismo que têm dificuldade em compreender as mentes de outras pessoas, podem não ter a ação dos neurônios-espelho. No entanto, numerosos estudos revisados ​​nesse artigo mostram, consistentemente, que pessoas com Autismo são altamente capazes de compreender as intenções das ações de outras pessoas, sugerindo que essa hipótese sobre pessoas com autismo e a falta de ações dos neurônios-espelho precisa ser revista.

Esse artigo é intitulado “Mirror Forum Neuron” e apresenta algumas das mais difíceis perguntas sobre os neurônios-espelho, até esta data, e explanações que pretendem levar a respostas.

Fonte: ScienceDaily

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03 novembro 2011

A praça é para quem?


Este post é uma indignação. Como podemos neste Brasil, fazer as pessoas entenderem o que é cidadania? O que é diversidade? Que não devemos seguir o exemplo da maioria dos governantes em suas falcatruas, corrupções, falta de decoro, etc.

Que calçadas são locais para os transeuntes, que faixas de pedestres devem ser respeitadas, que rebaixamento de guias para cadeirantes devem ser respeitados.

O indivíduo aí do vídeo, diz ainda: “ nem olhe, o que ela quer?” O que ela quer senhor mal educado, é o acesso à calçada que é dos transeuntes e não dos carros. O que ela quer é ser respeitada. O que ela quer é que o senhor seja penalizado pela sua má conduta, pela sua má educação, pela sua falta de cidadania. O que ela quer? É certamente o que o senhor não quer: um mundo onde as pessoas respeitem o direito de ir e vir de todos, principalmente nas calçadas.

Fica aqui a nossa indignação. A nossa vergonha pela falta de cumprimento  das leis necessárias à acessibilidade, ao desenho universal, pelos órgãos públicos, pelos munícipes, pelos políticos e gestores públicos, pelas pessoas que não têm noção do seja cidadania e democracia.
 
Falta mesmo muita educação ao nosso povo. Principalmente ao povo motorizado.
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