28 dezembro 2012

Premio Finep Inovação 2012 - Os caminhos de Tecnologia Assisitva no Brasil


Estamos encerrando 2012.           
E a Expansão está de parabéns.



Apesar das poucas notícias, foi um ano difícil para a maioria das empresas que desenvolvem Tecnologia Assistiva. Além da recessão, tivemos forte competição do mercado oriental.

As diversas compras governamentais, foram atendidas por empresas que abastecem o mercado com genéricos chineses.

A questão principal continua sendo a qualidade, assistência técnica e claro, os preços. Os fabricantes chineses usufruem de imensos incentivos fiscais em seu país e assim, seus preços são competitivos, seus produtos são a maioria copiados, somente recentemente gerando inovação e desenvolvimento. Na maior parte da produção de tecnologia assistiva não há período de experimentação, de calibração junto ao cliente, de análise de usabilidade e funcionalidade.

Temos uma história de 22 anos produzindo inovação. Estamos em constante ausculta com nossos clientes, com os profissionais envolvidos,  com os centros de reabilitação, com os cuidadores e familiares. Este ano conseguimos novamente depositar uma patente de invenção. Muitas vezes levamos mais de dois anos, desde a ideia inicial, até a produção de um protótipo.

Também sofremos com as cópias e com a espionagem industrial. Nem sempre podemos patentear nossos novos produtos. Carecemos  (o que não falta em muitos outros países) de órgãos que intermedeiem os inventores, que os orientem e fomentem as patentes, com taxas significativamente mais acessíveis.

A ciência Tecnologia Assistiva, ainda é muito incipiente em nosso país. Somos muito mais artesanais, fazemos carreatas com costureiras e tapeceiros, para fornecer produtos assistivos caseiros, ergonomicamente e biomecanicamente insatisfatórios.  Deixando assim de fazer follow-up e rever se oferecemos os recursos completos e pertinentes às necessidades.

Os pregões públicos ainda compram, aceitando a menor oferta por uma cadeira de rodas personalizada, desconsiderando a necessidade de aplicação e acompanhamento continuados até o seu ajustamento estar adequado àquele cliente grave.

A Expansão vem desenvolvendo há muitos anos o sistema personalizável, por acreditar que essa premissa, de ajustabilidade continuada, seja econômica para os cofres públicos e para seus utilizadores, seja também terapeuticamente  eficaz porque o equipamento possui todas as regulagens para atender às diversas intercorrencias de melhoras ou agravos.

É uma inovação conceitual que fizemos há 22 anos. E que vem sendo avaliada e reconfigurada de acordo com a usabilidade dessa  conceituação terapêutica. Por isso denominamos nossa empresa como Laboratório de Tecnologia Terapêutica, entendendo que esse laboratório é um grande alquimista de idéias, práticas e ciência.

Este ano, graças a iniciativa da FINEP de financiar as empresas de Tecnologia Assistiva (TA), criando o Premio Inovação - categoria TA – pudemos  concorrer a essa premiação pela região sudeste. Ao sermos vencedores por essa região, concorremos automaticamente à premiação nacional, com nossa linha de órteses Tuboform.

Estávamos entre as três empresas finalistas, e justamente a ganhadora do prêmio nacional é a que produz o seu dispositivo em Taiwan, em sociedade com uma empresa daquele país. O brasileiro que fez uma inovação numa caneta leitora, desconhecendo o campo de TA, fez essa inovação buscando outro nicho de mercado, e continuou com a produção do dispositivo com seus sócios fora do país. Com certeza os jurados se encantaram com a funcionalidade da caneta como um todo, que independe do mercado de TA .

Mais uma vez foi dado um prêmio para um produto para pessoas com deficiência visual, de usabilidade questionável, pois ainda não foi avaliado por uma parcela significativa dessa população.

Assim, ficamos muito tristes com a notícia e com a falta de critério de avaliação mais refinado por parte da equipe da FINEP.

Entendemos que TA é uma grande novidade no país assim como, para o nosso governo, gestores, empresas financiadoras, serviços públicos, órgãos de dispensação, etc. Mas quando desconhecemos um assunto, precisamos justamente ser muito mais criteriosos nos caminhos que vamos percorrer para apreender seu domínio.

Tuboform este ano renovou-se com mais 5 novos modelos, atendendo às demandas de desenho universal e a parcela significativamente maior de pessoas com deficiências por conta dos acidentes no trânsito, do aumento de crianças com síndromes raras ocasionadas pelos agravos do planeta, e também considerando o aumento da população de idosos, graças a maior expectativa de vida.

Apresentamos a nova geração de Tuboform, Premio FINEP Inovação 2012.
Nossos lançamentos comemorando o novo ano 2013
Feliz Ano Inclusivo para Todos.

Tuboform Gama







Tuboform @Arroba






Tuboform Delta



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26 dezembro 2012

"Como nasceu a Alegria" - uma história sobre diferenças


Rubem Alves
lustrações de Roberto Caldas
Editora Paulus
Coleção Estórias para pequenos e grandes – 1999

 

“Aos contadores das estórias”

O mundo das crianças não é tão risonho quanto se pensa. Há medos confusos, difusos, as experiências das perdas, bichos, coisas, pessoas que vão e não voltam.... O escuro da noite: o mundo inteiro se ausentou. Voltará?

Os grandes não gostam disso e inventam estórias de meninos e meninas que eram só risos. Talvez para convencerem a si mesmos de que sua própria infância foi gostosa...

Escrevi as estórias da Coleção ESTORIAS PARA PEQUENOS E GRANDES, em torno de temas dolorosos, que me foram dados por crianças. Não é possível fazer de conta que eles não existem. ..

Nem o livro que se lê nem o disquinho que se ouve têm o poder de espantar o medo.

É preciso que se ouça a voz de um outro, que diz:

-Estou aqui, meu filho...”

“Esta estória foi construída em torno da dor da diferença: a criança que não se sente bem igual às outras, por alguma marca no seu corpo, na sua maneira de ser... Esta eu sei bem, é estória para ser contada também para os pais.

Eles também sentem a dor dentro dos olhos.

Alguns dos diálogos foram tirados da vida real.

Ela lida com algo que dói muito: não é a diferença, em si mesma, mas o ar de espanto que a criança percebe nos olhos dos outros. Dizem os poemas sagrados que, após a queda, os olhos foram a primeira parte do corpo a ser envenenada. De órgãos de carinho transformaram-se em ferrões. Homens e mulheres descobriram o embaraço da diferença e se esconderam...

O medo dos olhos dos outros é sentimento universal. Todos gostaríamos de olhos mansos....

A diferença não é resolvida de forma triunfante, como na estória do Patinho Feio. O que muda não é a diferença. São os olhos...”


 


Imagem disponível em:

http://i.s8.com.br/images/books/cover/img7/143377_4.jpg

Título: COMO NASCEU A ALEGRIA
Editora: Paulus
Autor: RUBEM ALVES
ISBN: 8534900884
Origem: Nacional
Ano: 2002
Edição: 17
Número de páginas: 16
Acabamento: Brochura
Formato: Médio

"COMO NASCEU A ALEGRIA"
(Rubem Alves)


Você pode não acreditar, mas é verdade: muitos anos atrás a terra era um jardim maravilhoso.
É que os anjos, ajudados pelos elefantes, regavam tudo, com regadores cheios de água que eles tiravam das nuvens. Esta era a sua primeira tarefa, todo dia.
Se esquecessem, todas as plantas morreriam, secas, estorricadas... Para que isso não acontecesse, Deus chamou o galo e lhe disse:
- Galo, logo que o sol aparecer, bem cedinho, trate de cantar bem alto para que os anjos e os elefantes acordem...
E é por isto que, ainda hoje, os galos cantam de manhã...
Flores havia aos milhares. Todas eram lindas. Mas, infelizmente, todas elas eram igualmente vaidosas e cada uma pensava ser a mais bela. E, exibindo as suas pétalas, umas para as outras, elas se perguntavam, sem parar:
- Não sou a mais linda de todas? Até pareciam a madrasta da Branca de Neve.
Por causa da vaidade, nenhuma delas ouvia o que as outras diziam e nem percebiam que todas eram igualmente belas. Por isso, todas ficavam sem resposta.
E eram, assim, belas e infelizes.
No meio de tanta beleza infeliz, entretanto, certo dia uma coisa inesperada aconteceu.
Uma florinha, que estava crescendo dentro de um botão, e que deveria ser igualmente bela e infeliz, cortou uma d e suas pétalas num e spinho, ao nascer.A florinha nem ligou e vivia muito feliz com sua pétala partida. Ela não doía. Era uma pétala macia. Era amiga.
Até que ela começou a notar que as outras flores a olhavam com olhos espantados. E percebeu, então, que era diferente.
- Por que é que as outras flores me olh am assim, papai, com tanto espanto, olhos tão fixos na minha pétala...?
- Por que será? Que é que você acha?, perguntou o pai.
Na verdade, ele bem sabia de tudo. Mas ele não queria dizer. Queria que a florinha tivesse coragem para olhar para as vaidosas e amar a sua pétala.
- Acho que é porque eu sou meio esquisita..., a florinha respondeu.
E ela foi ficando triste, triste... Não por causa da sua pétala rachada, mas por causa dos olhos das outras flores.
- Já estou cansada de explicar. Eu nasci ass im... Mas elas perguntam, perguntam, perguntam...
Até que ela chorou. Coisa que nunca tinha acontecido com as flores belas e infelizes.
A terra levou um susto quando sentiu o pingo de uma lágrima quente, porque as outras flores não choravam. E ela chamou a árvore e lhe contou baixinho:
- A florinha está chorando. E a terra chorou também. A árvore chamou os pássaros e lhes contou o que estava acontecendo. E, enquanto falava, foi murchando, esticando seus galhos num longo lamento, e continua a chorar até hoje, à beira dos rios e dos lagos, aquela árvore triste que tem o nome de chorão. E das pontas dos seus galhos correram as lágrimas que se transformaram num fiozinho de água...Os pássaros voaram até as nuvens.
- Nuvens, a florinha está chorando. E choraram lágrimas que se transformaram em pingos de chuva... As nuvens choraram também, juntando-se aos pássaros numa chuva enorme, choro do céu. As lágrimas das nuvens molharam as camisolas dos anjinhos que brincavam no céu macio.
E quiseram saber o que estava acontecendo. E quando souberam que a florinha estava chorando, choraram também... E Deus, que era uma flor, começou a chorar também.
E a sua dor foi tão grande que, devagarinho, como se fosse espinho, ela foi cortando uma de suas pétalas. E Deus ficou tal e qual a florinha.
E aquele choro todo, da terra, das árvores, dos pássaros, dos anjos, de Deus, virou chuva, como nunca havia caído.
O sol, sempre amigo e brincalhão, não agüentou ver tanta tristeza. Chorou também. E a sua boca triste virou o arco-íris...
E as chuvas viraram rios e os rios viraram mares. Nos rios nasceram peixes pequenos.
Nos mares apareceram os peixes grandes.
A florinha abriu os olhos e se espantou com todo aquele reboliço. Nunca pensou que fosse tão querida. E a sua tristeza foi virando, lá dentro, uma espécie de cócega no coração, e sua boca se entortou para cima, num riso gostoso...
E foi então que aconteceu o milagre.
As flores belas e infelizes não tinham perfume, porque nunca riam.
Quando a florinha sorriu, pela primeira vez, o perfume bom da flor apareceu.
O perfume é o sorriso da flor. E o perfume foi chamando bichos e mais bichos...
Vieram as abelhas... Vieram os beija-flores... Vieram as borboletas... Vieram as crianças.
Um a um, beijaram a única flor perfumada, a flor que sabia sorrir.
E sentiram, pela primeira vez, que a florinha, lá dentro do seu sorriso, era doce, virava mel...
Esta é a estória do nascimento da alegria. De como a tristeza saiu do choro, do choro surgiu o riso e o riso virou perfume.A florinha não se esqueceu de sua pétala partida.
Só que, deste dia em diante, ela não mais sofria ao olhar para ela, mas a agradava, como boa amiga. Quanto aos regadores dos anjos, nunca mais foram usados.
De vez em quando, olhando para as nuvens, a gente vê um deles, guardado lá dentro, já velho e coberto de teias de aranha...
Enquanto a florinha de pétala partida estiver neste mundo, a chuva continuará a cair e o brinquedo de roda em volta do seu sorriso e do seu perfume não terá fim ..

Texto disponível em:

http://contandoradehistorias.blogspot.com/2008_01_01_archive.html

 

 
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11 dezembro 2012

Isabel Cristina McEvilly: Uma visão para o Brasil (Portuguese)

Faz muito mais de tres meses, que estamos com esse depoimento da Isabel para divulgar aqui no Blog. Andamos buscando fotos atualizadas dela, para mostrar às pessoas quem era essa incrível pessoa. Havia a questão de editar o texto e mudar algumas coisas, porque a Isabel escreveu-nos com alguns vícios da língua inglesa, tendo em vista que está há tantos anos nos EUA. E agora encontramos o texto e as fotos, publicados por Scott Rains. Então, melhor ainda. Isabel demonstra claramente a realidade da convivência de uma pessoa com deficiência neste Brasil, ainda tão carente de informações, educação e respeito.
Nosso mais que carinhoso abraço e congratulações à Isabel.


By Scott Rains on December 11, 2012 7:06 PM
Por Isabel Cristina McEvilly:


 
 
Depois de ler o documento da apresentação do Scott Rains, fiquei com esperanças de que realmente as coisas possam melhorar no Brasil,mas na minha opinião as leis deveriam ser mudadas e respeitadas antes mesmo de se começar a construir ou reconstruir acessos para portadores de deficiência.Leis que antes de serem aprovadas ao léu deveriam ser melhor examinadas.
Se voce não leu o que o Scott Rains disse na reunião dos lideres com deficiencias no estado de Ceara organizador pela ONG Arte Pensamento em 2012 você deveria aqui: [ The Legacy of Copa 2014 and the Rio 2016 Olympics for Brazil. ]
Bom, vou falar um pouco da minha história para que vocês entendam a que me refiro.
 
 
 
Comecei a desenvolver minha deficiência quando tinha 4 anos. Tive três diferentes diagnósticos: Poliomielite, Charcot Marie Tooth e um terceiro diagnóstico que já não me lembro mais o nome,mas a maior parte de minha vida ouvi dizer que havia tido polio.
Aos 13 anos minha mãe faleceu decorrente de um câncer de mama( breast cancer).Meu pai, hoje também falecido, tinha mais preocupações com bebidas e mulheres do que com as duas filhas que ele tinha.Acredito que somente quem tem um pai alcoólatra sabe o quanto é difícil, mas não quero me aprofundar nesta parte.
Eu e minha irmã sempre fomos muito amigas, isso era uma coisa que minha mãe estava sempre nos falando, que éramos mais do que melhores amigas, éramos irmãs.Quando minha mãe faleceu, minha irmã e eu nos tornamos ainda mais unidas.
Minha avó materna tentou trazer-nos para cá ( Estados Unidos), mas ela acabou morrendo dois anos depois da morte de minha mãe.Um motorista bêbado causou o acidente que tirou a vida de minha avó e também de uma de minhas tias.
Quando tinha aproximadamente 17 anos, uma tia foi ao Brasil e tentou trazer-nos, mas o consulado negou e somente uma de nós poderia vir. Como estava em tratamento para tentar uma cirurgia, fiquei e experimentei novamente a dor da perda, pois ja não teria mais minha irmã perto de mim.Não era fácil ouvir as pessoas dizerem que eu era diferente, eu adorava dançar e não via minha deficiência, mas depois de tanto me apontarem a deficiência como algo que deveria ter vergonha, parei de dançar.
Por mudar de uma casa para outra, minha irmã e eu ja havíamos perdido alguns anos de escola e com os acontecimentos e minha rebeldia juvenil para chamar a atenção das pessoas, eu parei de estudar e fiz isso por muitos anos.Trabalhava com meu pai no bar que ele e minha mãe haviam conseguido com muito esforço.
Com o passar dos anos eu queria voltar para escola, mas tinha vergonha, pois estava "velha" para isso.
Meu pai, acabou vendendo o bar e quando foi fazer uma nova compra, ele levou um golpe. Perdeu todo o dinheiro que tinhamos.
Precisava agora arrumar um emprego e por mais que tentasse não conseguia, pois não tinha experiência ou mesmo estudos.
Coloquei minha vergonha de lado e fui fazer o supletivo,mas não era fácil,principalmente porque a escola tinha escadas e não havia corrimão.Fui pedir para a diretora instalar e o que ouvi foi que a escola não tinha verbas e que eu poderia usar a escada do meio que era apenas para os professores.
Nessa época eu pagava ônibus e dava meu lugar para idosos e gestantes, ficava em filas, não usava nenhum dos meus direitos.
Foi quando um grupo de estudantes da USP começaram a ir na escola, não me lembro o que levaram eles até lá, mas lembro que estava conversando com um dos rapazes do grupo e ele me disse que admirava todas as pessoas que voltavam a estudar, cada um tinha um motivo diferente por ter abandonado os estudos, mas retornar era sinômino de coragem e que no meu caso ele estava realmente admirado por causa da deficiência. Nesse mesmo momento soube que um dos professores me admirava muito pelo mesmo motivo. Voltar a estudar depois de anos exigia coragem, mas ter ainda que passar pelos obstáculos da deficiência, eu era realmente um exemplo.
Depois de ouvir minha vida inteira de que eu não era capaz, de que não conseguiria, que não era perfeita, que eu era bonita e o problema era só os meus pés.Aquelas palavras me deram uma força que havia esquecido possuí- la.Coragem que me levou a ir de classe em classe e pedir para que os alunos assinassem o meu abaixo- assinado, requerindo corrimãos para as duas escadas laterais, para o meu benefício e de todos os outros portadores de deficiência física, mas também para aqueles que tivessem o pé quebrado e os mais velhos que também estavam ali para estudar.Não foi preciso mandar o abaixo-assinado para Secretaria da Educacão, a escola instalou os corrimãos.
Terminara o colegial, mas ninguém me dava emprego, " não tinha experiência".
Fui então para secretaria do trabalho, lá fui encaminhada para o departamento responsável para portadores de deficiência.Conheci a Thais, que é fonoaudióloga e ela me explicou mais sobre os direitos das pessoas portadoras de deficiência e que não deveira me sentir mal por usá- las.

Fui ao banco com uma de minhas priminhas e resolvi seguir o conselho da Thais, estava na fila e escutei um homem gritando que as pessoas não têm vergonha na cara, gente nova com saúde...Veio a gerente e perguntou para uma senhora quantos anos ela tinha, a pobre mulher mostrou o RG, a que estava na minha frente disse que estava de 3 meses de gestacão e ela então me perguntou o porquê de eu estar na fila e eu lhe disse. Chegou a minha vez de ir ao caixa, a moça não olhou pra mim, se virou e disse ao seu colega ao lado: - Olha que falta de vergonha! Cheguei ao caixa e ela me disse: - Você sabe que esta fila é para idosos e gestantes! E eu perguntei a ela se não era também para deficientes.Ela sem graça disse que sim, então perdi a minha paciência, alterei minha voz e lhe disse: - Se voce tivesse olhado pra mim, teria visto que ando diferente de você,mas com certeza se eu fosse tentar namorar alguém na sua família voce iria ver a minha deficiência antes mesmo de me ver.

 
Já no onibus, teve um motorista que ficou esperando eu descer do ônibus e começar a caminhar para parar de me olhar com ar de suspeita. Um outro que assim que viu que eu ia entrar pela porta da frente comecou a dirigir o onibus e foi o cobrador que gritou: -Para o ônibus, a moca é aleijada. Um senhor entrou no ônibus e começou a me insultar, pois estava no lugar que era dele. Então aí veio a lei: certo número de empregados tem que ter certo número de deficientes,meio maluco isso, mas fui lá "tirar proveito". " Mas você precisa de alguma adaptacão? Sabe o que é, a vaga foi preenchida esta manhã."
Bom, aí vem mais uma vez Deus me dizer que sou forte e sou capaz. Tivemos uma reunião, a Thais, a diretora, outros deficientes que também estavam procurando empregos (uns com diplomas de faculdade e experiência) e eu é claro. No dia seguinte a Thais me pediu pra ir até lá. Começamos a conversar e ela me disse que havia uma vaga para recepcionista, não pagavam muito, mas seria um começo e que eu me daria bem lá, pois teria contato com crianças( o que eu amo) e seria apenas para começar. Então ela me disse que não sabia o que estava acontecendo comigo, pois a diretora que estava na reunião conosco lhe disse que eu não falava muito, mas meus olhos sim falam muito,mas o que mais a havia impressionado foi que apesar de não falar muito, quando abria minha boca falava de forma correta,o que os outros que estavam ali com diploma não o fizeram. Sai de lá e fui para minha entrevista, claro que consegui o emprego. Alguém tinha acabado de me dizer que eu era boa, pelo menos no meu português.
Nesse emprego, era a recepcionista, a amiga e a conselheira de todos. Bom, muitos de vocês conhecem esse lugar, é a Expansão. Lá conheci algumas pessoas que me indicaram outras pessoas ou lugares e quando fui ver estava envolvida com Magic Hands, CMPD e o pessoal da Saga Natacão.
Tenho muitas histórias boas da Expansão, mas uma vou contar agora.
Uma mãe veio me contar que estava triste pois a AACD havia dito que o filho não poderia mais ir para escola ,pois ele não tinha mais capacidade de aprendizado. A mãe disse a ele e o pobre menino ficou super triste, pois ele queria ir pra escola como seu irmão. Entrei em contato com alguns dos meus novos amigos e me disseram para falar para essa mãe que ela deveria ligar para associação e dizer que se eles nao aceitassem o menino, ela iria com o advogado até o tribunal de justiça e abrir uma ação contra eles. A mãe me ligou depois de alguns dias para dizer que eles ligaram para ela e disseram que foi tudo um mal entendido e o menino poderia sim frequentar a escola.
Agora já nas reunioes do CMPD tem três histórias que gostaria de contar. Essas ficaram marcadas em minha memória. Não me lembro mais o nome das pessoas, mas me lembro dos incidentes.
A primeira foi de um rapaz que é deficiente e que precisando de ajuda para descer as escadas do metrô pede ajuda aos funcionários. Quando esses chegaram perto do cadeirante,um dos funcionarios disse:
- Por que voce não se jogou? Era menos trabalho. Já a segunda também envolvendo o pessoal do metrô, foi com uma uma deficiente visual e o rapaz que a conduzia disse a ela: - Você deveria ficar era em casa. O terceiro caso foi uma pessoa que sendo deficiente visual não percebeu que a rampa já havia terminado e foi puxado por uma pessoa antes que o carro o atropelasse.
Aonde eu quero chegar com minhas histórias? Nao é apenas construir ou reconstruir estádios, hotéis, cinemas, teatros,além disso é preciso ter conhecimento do que e como estão sendo feitas essas obras. Arquitetos, engenheiros e pedreiros, antes de começarem qualquer coisa devem ouvir os deficientes , visuais, auditivos, os amputados , cadeirantes, os que usam muletas, órteses, os que tem atrites, todas as pessoas que tem algum tipo de dificuldade motora devem ser ouvidas e também os idosos. Uma das coisas mais estúpidas que eu achava era a luz de estacionamento com alerta sonoro dos prédios para avisar que os carros estão saindo, mas me diga como um deficiente visual perceberia os carros?
O Brasil precisa sim de reformas arquitetônicas urgentes,mas precisa também de educação e não estou me referindo apenas a escolar. Respeitar e aceitar as diferenças! É preciso começar já a educar os funcionários públicos, termos ônibus adaptados com motoristas e também adaptados a serem gentis, educados e prestativos. O governo dá vagas de empregos, otimo! Mas as escolas não estão adaptadas para que as crianças deficientes frequentem a mesma. A vaga de emprego está aberta, agora o governo também está dando bolsas de estudos,mas como o deficiente irá para a faculdade se nao tem ônibus adaptados?

Eu cheguei a prestar faculdades aí no Brasil e na USP.A minha pontuação foi melhor do que de uns primos meus mais novos e que haviam estudado em melhores escolas, mas nenhum de nós conseguiu entrar. Depois consegui passar numa faculdade que oferecia o curso de filosofia gratuíto, ja que o de matemática eu não poderia pagar,mas não era o que eu queria.
Estavam oferecendo inscrições gratuítas na UNIP e minha colega de trabalho não queria ir, então pedi pra ela e ela foi. Chegou em casa a carta da faculdade dizendo que havia passado, chorei muito de alegria pois havia passado para o curso de Direito sem a "bolsa", mas chorei ainda mais, pois não ganhava o suficiente para pagar as mensalidades. Já havia passado o prazo de inscrição, quando comentei o acontecido com o Rui Biachi, ele me disse que se eu tivesse lhe dito a tempo ele teria me ajudado com as mensalidades e que nós deficientes precisamos de pessoas como eu.Ele realmente estava disposto a me ajudar, mas não poderia aceitar.
O que infelizmente descobri é que entre nós os deficientes , somos muito os poucos que realmente nos importamos com os problemas das pessoas. Conheci muitos deficientes ricos ou com algum poder que jamais fizeram algo em prol do próximo e sim tudo o que fizeram era para benefício próprio. Por que estou escrevendo isto? Porque não adianta dizer que tem um deficiente a frente das questões, se esse deficiente não for uma pessoa íntegra e honesta. Sendo assim deficientes e "normais" deveriam juntos mudar o Brasil para que possamos fazer bonito na Copa e nas Olimpíadas,mas principalmente no dia-a-dia.
 

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05 dezembro 2012

Dezembro: inclusão e diversidade no Natal e além.


Nosso post não falará de neurociências, nem tão pouco de Educação ou Reabilitação. Vamos falar sobre o mês de Dezembro.
O Dezembro com a presença marcante das festividades de Natal, um convinte à inclusão e diversidade
 
 

Essa festividade que universalmente deixou de ser uma comemoração maior que a festa cristã. São dias de confraternização entre as pessoas, de reuniões com amigos, de reencontros e a oportunidade de todos estarem mais próximos de seus familiares, buscando a proximidade daqueles que estão distantes. Nesses dias, em que todos querem estar com suas famílias e amigos e brindarem o renascimento do espírito humano, batalhador diário em sua luta pela saúde, pela segurança, pela harmonia e paz.

Muito além do consumismo que ainda é fortemente presente, são dias de preparativos nos lares de enfeites, lembranças  e alimentos típicos, que procuram alegrar a todos os  nossos sentidos: visão, audição, gustação, tato,  e olfato.

São corais ensaiando canções, crianças e adultos organizando peças de teatros, bazares, retiros, festas em grupo, e a forte presença das árvores de natal, dos enfeites com azevinho, muito vermelho e luzes.

O azevinho representando o símbolo de paz e felicidade, a árvore de Natal - com o  pinheiro sobrevivente nas imensidões da neve - que, além de decorar, simboliza também  paz, alegria e esperança, a vida.

As luzes de Natal que enfeitam as árvores, cidades e casas no mundo todo lembram e significam, outra luz, invisível aos olhos, mas não ao coração, a luz dos nossos protetores espirituais, a luz dos anjos...
O vermelho, por demais presente, representa o sentimento dominante entre as pessoas que é o amor. O sentimento que une pessoas, famílias, comunidades, países.

Assim enriquecido por suas simbologias cristãs, cabalísticas, ou humanitárias, o Natal a todos contamina por sua alegria, pois, de uma forma geral as pessoas estão mais disponibilizadas para aproximações, abraços, sorrisos, o que faz todo o ambiente da cidade, do planeta, estar mais amoroso, mais vibrante de bons sentimentos e afetividade.


É evidente que essa contaminação de amorosidade e alegria transforma as pessoas nesses dias, deixando todos com um novo vigor e esperança de que juntos podemos construir um mundo mais fraterno e menos agressivo. Com mais harmonia e possibilidades de realizações -  muito além das  materiais -  pois as realizações pessoais e dos amigos enaltecem nosso coração, deixam-nos fluir mais leves, mais crentes de possibilidades de novas aprendizagens, que são tradutoras de crescimento do nosso ser humano em convívio, em troca, em estar e em ser.
 

 
Fica aqui nesse post nossa declaração, intenção e votos de que todos nós possamos ter um dezembro totalmente natalino, cheio de vida, de paz, de harmonia, de afetividade, de carinho, e sendo assim que este mês abastecendo nosso ser de muita energia do bem, possa nos conduzir a um novo ano de trabalho, com muita procura por aprimoramento para todos nós. Entendendo que esse aprimoramento atinge todas as esferas de nossa vida: a nossa relação pessoal, interpessoal e relacional, tanto no trabalho, como em casa, com os vizinhos, com nossa cidade, com nosso país e nosso planeta.










Que todos  estejam preocupados com todos , na busca do bem estar de todos . Todos com direitos intrínsecos e inerentes de estar nesta vida usufruindo os mesmos espaços, as mesmas oportunidades, as mesmas possibilidades. Inclusão e diversidade continuarão sendo as palavras que precisam ser refletidas, compreendidas e conquistadas. A inclusão de muitas facetas que desconhecemos em nós mesmos, a inclusão de todos que estão à nossa volta,  e a diversidade do que somos e de todos que estão convivendo conosco, em nosso entorno, nesta cidadania de convivência global.


Gisleine Martin Philot
Terapeuta Ocupacional
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