30 março 2012

Como avaliar uma notícia científica

Mais do que nunca, é preciso antes de divulgar, conhecer o rigor científico, das chamadas pesquisas e resultados científicos, nesta comunidade em que compartilhanos notícias sobre educação e saúde

Como avaliar uma notícia científica
Este folheto é para as pessoas que acompanham na mídia as discussões na área médica e científica em geral. Ele explica como os cientistas apresentam e avaliam as pesquisas e como os leigos podem se informar melhor sobre as notícias científicas veiculadas.
Este texto foi traduzido para o português.
O Original pode ser lido no site do SENSE ABOUT SENSE através dos links:


Resumo
  • A área científica possui um sistema para avaliar a qualidade das pesquisas antes de sua publicação. Esse sistema recebe o nome de “revisão por pares”.
  • A revisão por pares significa que outros especialistas da área avaliam o estudo científico em termos de validade, relevância e originalidade -- além de clareza.
  • Os editores das revistas científicas contam com um grupo grande de especialistas nas mais diversas áreas para analisar minuciosamente os estudos recebidos antes de decidir se publicá-los.
  • Muitas notícias científicas que saem nos jornais e revistas aparecem na internet ou são veiculadas na televisão e no rádio não foram publicadas em periódicos com revisão por pares.
  • Embora algumas dessas pesquisas sejam de fato confiáveis, uma boa parte é falha ou incompleta. Muitas das descobertas divulgadas, como “curas milagrosas” ou “novos perigos”, nunca são comprovadas.
  • A pesquisa que não é publicada não ajuda ninguém. Os cientistas não podem repeti-la ou usá-la, e a sociedade não pode tomar decisões sobre segurança pública – ou sobre a saúde da família, por exemplo -- baseada em estudos que podem ter falhas graves.
  • Portanto, por mais interessantes ou animadores que sejam os resultados de uma nova pesquisa médica ou científica, você deve sempre perguntar...
  • Ela foi avaliada por pares? Se não foi, por que não?
  • Se foi analisada por pares, você pode procurar se informar sobre o que outros cientistas dizem a respeito, sobre o tamanho e a abordagem do estudo e se ele faz parte de um conjunto de evidências que apontam para as mesmas conclusões.
Como avaliar uma notícia científica
                                                     
                                                      

  • Todos os dias somos bombardeados com informações científicas nos jornais, na internet, nos programas de rádio e televisão. Mas nem sempre é fácil julgar o que dizem. Como saber quando a notícia pode ser levada a sério? Como identificar o alarme falso? Às vezes os cientistas parecem fazer declarações conflitantes. Como saber no que devemos acreditar?
  • Existe um sistema usado pelos cientistas para decidir se os resultados de uma pesquisa devem ser publicados numa revista científica. Esse sistema, conhecido como “revisão por pares”, submete os estudos científicos a uma análise independente por parte de outros especialistas qualificados (os chamados “pares”) antes de decidir se devem ser divulgados.
  • A revisão por pares ajuda a julgar uma notícia científica, pois significa que a pesquisa foi examinada por outros pesquisadores e foi considerada válida, relevante e original.
  • A revisão por pares significa que as declarações feitas por cientistas em revistas científicas são criticamente diferentes de outras declarações ou informações, como aquelas veiculadas por políticos, colunistas de jornal ou militantes de uma determinada área. Ciência é muito mais do que uma mera opinião.

Breve explicação sobre a revisão por pares:
  • Quando um pesquisador, ou uma equipe de pesquisadores, termina uma etapa do seu trabalho, geralmente escreve um artigo apresentando seus métodos, resultados e conclusões. Em seguida submete o artigo para publicação em uma revista científica.
  • Se o editor da revista considerar o artigo adequado, ele o envia a outros cientistas que pesquisam e publicam na mesma área, para que eles:
  • comentem sobre a validade do estudo -- os resultados da pesquisa são confiáveis? O desenho e a metodologia são apropriados?
  • avaliem a relevância – o estudo chegou a alguma conclusão importante?• determinem a originalidade – os resultados são novos? O trabalho faz a devida referência a estudos de outros pesquisadores?
  • opinem se o artigo deve ser publicado, melhorado ou recusado (geralmente para ser submetido a outro periódico).
  • Esse sistema recebe o nome de “revisão por pares”. Os cientistas (os “pares”) que avaliam os artigos são chamados de revisores ou pareceristas.
  • Os cientistas nunca tiram conclusões definitivas apenas a partir de um artigo ou um conjunto de resultados. Eles levam em conta a contribuição da pesquisa no contexto de outros estudos e de sua própria experiência. Normalmente é necessário mais de um artigo para que os resultados sejam considerados confiáveis ou aceitos como verdade universal.
Como funcionam as publicações científicas:   
                                                    
                                                              
  • Para que haja avanços científicos, os cientistas precisam mostrar seus resultados para outros cientistas. A principal maneira de fazer isso é publicar seus estudos nas revistas científicas, que são publicações periódicas que visam ao progresso da ciência através da divulgação de novas pesquisas.
  • Os editores dessas revistas recebem muito mais artigos do que podem publicar, então usam um processo de seleção em duas etapas. Primeiro, decidem se o artigo é adequado para a sua revista. Por exemplo, algumas revistas científicas publicam somente estudos inovadores; outras são restritas a uma determinada área, como microbiologia.
  • Se o editor decide que um artigo é adequado para a sua revista, ele o encaminha para o processo de revisão por pares, que analisará se os resultados são válidos, relevantes e originais.
Financiamento e disponibilidade:
  • A maioria das publicações científicas é financiada através de assinaturas, sendo que algumas também se beneficiam de subsídios institucionais, organização de congressos e publicidade.
  • Muitas estão disponíveis na internet, e é cada vez mais comum que o conteúdo seja divulgado gratuitamente na internet após um determinado período, geralmente um ano.
  • Existem também modelos alternativos de financiamento, como quando os cientistas pagam os custos de revisão e publicação dos seus artigos, para que elesfiquem disponíveis livremente. Menos de 1% dos artigos são publicados dessa forma.
  • Você sabia que existem cerca de 21.000 revistas acadêmicas e científicas que usam o sistema de revisão por pares. Grande parte atua na área técnica, médica e científica, publicando mais de um milhão de estudos por ano.
Publicar em revistas científicas faz parte da vida do cientista, pois:
  • permite-lhe fazer contato e divulgar sua pesquisa entre pessoas que pensam de modo semelhante. Um artigo publicado é lido por cientistas do mundo todo.
  • é um registro permanente do que foi descoberto, quando e por quem – como a ata de um tribunal, só que na área científica.
  • ajuda os cientistas a promover o próprio trabalho e a ter o reconhecimento das instituições, financiadoras e outras.
  • mostra a qualidade do trabalho do cientista, já que outros especialistas o consideraram válido, relevante e original.
A propósito...
Revisão por pares de projetos de pesquisa.
  • A revisão por pares também é usada para avaliar pedidos de financiamento para pesquisa. As instituições financiadoras, como organizações beneficentes que apóiam a pesquisa médica, buscam a opinião de especialistas sobre projetos de pesquisa antes de conceder o financiamento pedido. Nesse caso a revisão por pares é usada para julgar quais são os pedidos mais válidos do ponto de vista científico e com mais probabilidade de ajudar a organização a alcançar seus objetivos.
                                                                     
Como saber se os resultados divulgados foram analisados por pares?
Nem sempre é fácil!
A referência completa a um artigo que foi submetido à revisão por pares geralmente é assim:
Fellers J H and Fellers G M (1976) Tool use in a social insect and its implications for competitive interactions. [Uso de ferramentas em insetos sociais e suas implicações para interações competitivas.] Science, 192, 70-72.
... ou assim:
Hedenfalk I, Duggan D, Chen Y, et al. Gene-expression profiles in
hereditary breast cancer. [Perfis de expressão gênica em câncer de mama hereditário.] N Engl J Med, 2001; 344: 539-48.
  • Algumas pessoas inescrupulosas usam esse formato em sites e artigos para citar estudos que não passaram pelo processo de revisão por pares. Mas felizmente isso é raro.
  • A fonte mais provável de notícias científicas são os jornais e noticiários, onde não há espaço ou interesse em dar a referência completa. Os bons jornalistas, porém, costumam indicar se a pesquisa foi publicada e mencionar o nome do periódico.
  • Você também pode procurar reportagens mais longas sobre uma dada pesquisa em outros jornais, ou em revistas de divulgação científica, também disponíveis na internet, para descobrir se a pesquisa foi publicada e onde.
  • Isso também ajuda a verificar se as informações veiculadas são um reflexo real dos resultados da pesquisa.
  • Muitas vezes os estudos científicos apresentados em congressos já começaram o processo de revisão por pares, mas os resultados são preliminares e ainda não foram publicados.
  • Quanto mais pessoas perguntarem sobre a revisão por pares, mais os repórteres se sentirão pressionados a incluir essa informação.
  • Não existe uma lista definitiva de periódicos com revisão por pares, mas você pode procurar alguns pelo nome no serviço de notícias científicas online EurekAlert! www.eurekalert.org/links.php?jrnl=A
  • No final deste folheto você encontrará outras fontes de informação sobre pesquisas científicas.
O que acontece depois da revisão por pares?
  • Quando os resultados de uma pesquisa são analisados por pares e publicados numa revista científica, isso quer dizer que são suficientemente válidos, relevantes e originais para merecerem a atenção de outros cientistas.
  • A revisão por pares é uma linha divisória importante para separar o que é científico do que é mera especulação e “achismo”. A maioria dos cientistas estabelece uma distinção clara entre seus estudos que foram analisados por pares e suas opiniões em geral.
  • Até aí tudo bem, mas e depois?
  • A publicação de um artigo submetido à revisão por pares é apenas o primeiro passo: os resultados e as teorias desenvolvidas a partir deles precisam ser testados novamente e comparados com outros estudos na mesma área. As conclusões de alguns estudos podem ser questionadas e pesquisas posteriores podem mostrar que eles precisam ser revistos, com a coleta de mais dados.
  • Assim como algumas lavadoras de roupas trazem um selo de qualidade, a revisão por pares é a garantia de qualidade na ciência. Ela informa que uma pesquisa foi realizada e apresentada segundo um padrão de qualidade avalizado por outros cientistas.
Os desafios da revisão por pares:
  • Por que não pode simplesmente existir uma lista de itens para verificar a validade científica?
  • Avaliar um artigo científico não é a mesma coisa que outorgar um selo de qualidade e segurança para um automóvel ou corrigir uma prova de matemática. As novas pesquisas costumam ter características próprias, que são difíceis de prever com uma simples lista e que exigem uma avaliação especializada no que diz respeito à validade, relevância e originalidade.
  • A revisão por pares consegue detectar os casos de fraude e má-fé?
  • A revisão por pares não é um sistema de detecção de fraudes. Os revisores podem detectar alguma ação fraudulenta, como plágio ou falsificação de dados, porque conhecem bem o assunto. Eles conhecem as pesquisas já realizadas na área e os tipos de resultados esperados. No entanto, se alguém tentou deliberadamente falsificar dados, às vezes não há como descobri-lo até que o estudo seja publicado e outras pessoas da comunidade científica comecem a avaliar a pesquisa e a repeti-la.
As correntes científicas dissidentes são rejeitadas através da revisão por pares?
  • Às vezes as pessoas temem que ideias novas não serão aceitas por outros cientistas (embora isso também sirva como desculpa quando os pesquisadores não querem se submeter à avaliação de seus pares). É verdade que os revisores podem ser muito cautelosos com achados incomuns, e que ideias importantes podem não merecer a devida atenção inicialmente. Mas se uma pesquisa foi especialmente engenhosa, o mais provável é que os outros cientistas o reconheçam e a diferenciem de dados falsos ou inchados. Os editores dos periódicos gostam de ideias novas, e a publicação de artigos científicos trouxe à luz milhares de descobertas importantes.
                                                                  
Será que o processo de revisão por pares retarda o avanço do conhecimento científico e médico?
  • No nosso mundo de comunicação instantânea e divulgação de notícias 24 horas por dia, um processo deliberativo como a revisão por pares pode ser frustrante por ser muito lento. A comunicação eletrônica melhorou o processo, mas uma boa avaliação de uma pesquisa leva mesmo certo tempo. 
  • Às vezes as pessoas justificam a divulgação de descobertas não publicadas dizendo que são “importantes demais para esperar”. Entretanto, apesar de alguns estudos levarem meses para serem analisados e aperfeiçoados, no caso de uma descoberta importante o processo pode ser concluído em poucas semanas. Além disso, se os resultados forem muito importantes – por exemplo, se forem ligados à saúde pública – a revisão por pares se torna ainda mais necessária.
                                           
                                                          
Outras informações:
Sense about Science – Entendendo a ciência
Para saber mais sobre a revisão por pares, você pode visitar o site Sense About Science, onde existe uma seção dedicada ao assunto. A seção inclui download gratuito do relatório completo “Peer Review and the Acceptance of New Scientific Ideas” (“A revisão por pares e a aceitação de novas ideias científicas”) (2004), versões eletrônicas do folheto e recursos didáticos adicionais. Para solicitar mais cópias do folheto, por favor, mande um email para: publications@senseaboutscience.org Este endereço de e-mail está protegido contra spambots. Você deve habilitar o JavaScript para visualizá-lo.
ou ligue: 00 (operadora) 44 (0) 20 7478 4380 www.senseaboutscience.org/peerreview
Association of Medical Research Charities: a associação de auxílio à pesquisa possui uma página em seu site sobre a revisão por pares de pedidos de auxílio: www.amrc.org.uk/temp/Aboutsppeerspreview.doc
Committee on Publication Ethics: O COPE oferece um fórum para editores de periódicos científicos discutirem como lidar com violações de ética em pesquisas e publicações: www.publicationethics.org.uk
The National Electronic Library for Health: a Biblioteca Eletrônica Nacional de Saúde possui um arquivo chamado ‘Hitting the Headlines’, que analisa as notícias e reportagens médicas e fornece as evidências científicas nas quais se baseiam: www.nelh.nhs.uk/hth/archive.asp
The Science Media Centre: o Centro de Mídia Científica publicou um folheto chamado “Peer Review in a Nutshell” (“A revisão por pares em poucas palavras”), que é um guia para cientistas que querem se preparar para dar entrevistas na Mídia www.sciencemediacentre.org/peer_review.htm
Agradecimentos :
Este folheto foi produzido e distribuído com o patrocínio e a ajuda de:
Sense About Science agradece a contribuição dos patrocinadores, das diversas organizações (principalmente Cancer Research UK, Asthma UK, Migraine Trust and Action Medical Research), de parlamentares, autoridades do governo, instituições de ensino, professores, estudantes, médicos, farmacêuticos, conselhos científicos e de inúmeras outras pessoas e instituições. A responsabilidade pelo conteúdo é inteiramente da Sense About Science.
Capa da The Lancet, vol. 366, No. 9487, 27 agosto 2005, publicada com permissão da Elsevier.
Capa da Science reimpressa com permissão da AAAS.
© Sense about Science 2005
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23 março 2012

Um escritor premiado elabora manual do mundo para o filho com deficiência Intelectual


Jovens de um novo tempo, despertai!






Um escritor experiente se encontra diante do grande desafio narrativo: explicar o mundo e sua falta de sentido ao filho que sofre um tipo de deficiência mental. Com este enredo, o autor japonês Kenzaburo Oe elaborou a obra-prima “Jovens de um Novo Tempo, Despertai!”, que ganhou uma edição caprichada no Brasil da Companhia das Letras, com direito até a um charmoso marcador de página de tecido.
 

Com um texto lúcido, ainda que carregado de emoção, Oe não cai no sentimentalismo extremo e evita com classe narrativa os lugares-comuns. Apresenta a deficiência do filho a partir de questões existenciais pertinentes a qualquer um. Por exemplo: a morte. Parece partir da preocupação em explicar a morte ao filho todo o projeto do tal “manual de definições do mundo, da sociedade e do ser humano”.


Após uma crise nervosa do filho, pai e mãe percebem como involuntariamente usavam o fim da vida como uma ameaça de futuro nas discussões com o garoto, um adolescente em formação. “Minha mulher e eu ficamos abatidos, com vergonha de nós mesmos ao pensar nas vezes sem conta em que repetimos a pergunta: ‘Que é que você vai fazer depois que nós morrermos, Iiyo?’”.
 

O narrador está certo que foram diálogos como esse que fizeram seu filho compreender o futuro como algo a se temer. E a morte, como alguma coisa que antes de acontecer a seus pais, seria conveniente que acontecesse a ele. “Depois de vestir o uniforme escolar, meu filho se senta todas as manhãs no tapete da sala de estar. Separa os joelhos gordos, planta as nádegas firmemente no chão e abre o jornal matinal. Apenas para ler o obituário. (…) ‘ Ah, vejam outra vez quanta gente morreu esta manhã!”.


Oe escreve com a fluidez de quem está muito próximo e íntimo ao tema. Prêmio Nobel em 1994, o autor tem um filho com deficiência mental e o apresenta em sua obra frequentemente. Os capítulos que compõem “Jovens de um Novo Tempo, Despertai!” foram originalmente publicados em jornais japoneses entre julho de 1982 e junho de 1983.


Chama atenção na narrativa de Oe a proximidade que se estabelece com a literatura ocidental. William Blake é uma importante referência, inclusive os títulos do livro e dos capítulos foram tirados da obra do poeta inglês. Há várias citações de Blake e parte de versos dele algumas das imagens construídas pelo narrador em seus devaneios.


“Jovens de um Novo Tempo, Despertai!”
Autor:  Kenzaburo Oe
Editora: Companhia das Letras
Tradutor: Leiko Gotoda
 Páginas: 320

Fonte: http://entretenimento.uol.com.br/


In http://www.deficienteciente.com.br/2011/10/escritor-elabora-manual-do-mundo-para-filho-deficiente-mental-em-jovens-de-um-novo-tempo-despertai.html?utm_medium=twitter&utm_source=twitterfeed acessado dia 23.03.2012
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20 março 2012

21 de março: Dia Internacional da Síndrome de Down - homenagem a quem mudou o processo educacional desse grupo de pessoas: Reuven Feurstein




O texto abaixo é longo. Mas a história de Feurstein, é pautada pelo seu inesgotável trabalho junto às milhares de crianças sobreviventes ao Holocausto, entre elas centenas de crianças com síndrome de Down. Todas foram plenamente recucuperadas e alfabetizadas, sendo que muitas delas atingiram o nível superior de educação. Sendo um precursor e um visionário, fica aqui um pequeno resumo do seu trabalho publicado na Wikipédia. Para esse grande pensador e cientista não há limites para o cérebro de qualquer indivíduo. Em Israel diversos pessoas com sídrome de Down são professores universitários.




"Professor Reuven Feuerstein (nascido em 21 de Agosto de 1921 em Botosan, Romênia) (hebraico פוירשטיין) um psicólogo judeu-israelense, criador da Teoria da modificabilidade cognitiva estrutural (MCE), a teoria da Experiência da Aprendizagem Mediada (MLE), e o Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI). A ideia de que inteligência pode ser desenvolvida está associada ao trabalho do Professor Feuerstein.
Feuerstein estudou na Universidade de Genebra sob orientação de Jean Piaget, André Rey, Barbel Inhelder e Marguerite Loosli Uster e é um seguidor de Lev Vygotsky. Ele é o presidente do Centro Internacional pelo Desenvolvimento do Potencial de Aprendizagem (ICELP)[1] em Jerusalém. Os conceitos de que a inteligência é plástica e modificável, e que a inteligência pode ser pensada, são centrais na Teoria da modificabilidade cognitiva estrutural. Inteligência pode ser desenvolvida em um ambiente de aprendizagem mediada criado a partir da teoria da Experiência da Aprendizagem Mediada.
Um mediador é uma pessoa que trabalha interagindo com o aprendiz estimulando suas funções cognitivas, organizando o pensamento e melhorando processos de aprendizagem.
Depois de desenvolver suas teorias e de aplicar uma série intervenções práticas para mediação com crianças sobreviventes do holocausto. Feuerstein respondeu à demanda de professores por métodos que pudessem solidificar seu trabalho no formato curricular. Para esse fim, ele desenvolveu 14 “instrumentos” que mediadores e estudantes usaram para enriquecer funções cognitivas e construir o hábito de se ter um pensamento eficiente. Ele organizou esses instrumentos “livres de conteúdo” (content free) em um programa de 3 anos para estudantes acima de 9 anos. Esse programa é chamado de Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI).
Depois de 50 anos de sucesso, documentados por mais de 1500 pesquisas científicas com várias populações, incluindo engenheiros da Motorola (USA), estudantes carente em comunidades rurais do Brasil (Bahia), imigrantes não-alfabetizados (Etiópia), crianças autistas e com síndrome de Down (Jerusalém-Israel), estudantes do ensino médio com baixo aproveitamento em matemática (Cleveland, Ohio, USA) e muitos outros grupos.
Feuerstein desenvolveu uma versão básica do PEI para uso com crianças e adolescentes com dificuldades cognitivas profundas. Projetos através do estado do Alasca (EUA), Grã-Bretanha, Itália, Índia e Japão tem sido desenvolvidos, explorando a aplicabilidade de novos instrumentos com jovens com dificuldades diversas de aprendizagem.
Abaixo pode-se ler a participação de Myron Tribus, publicado em um diário chamado Letters From Jerusalem, na 18ª Conferência Anual do ICELP em Julho de 1997:
“Hoje, a 18ª Conferência Anual foi aberta sobre duas teorias básicas: Teoria da modificabilidade cognitiva estrutural (MCE) e Experiência da Aprendizagem Mediada (EAM), com seus dois métodos aplicados: Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI) e o Teste de Propensão à Aprendizagem (LPAD). Há 233 pessoas participando da conferência, representando 33 diferentes países. A cerimônia incluiu observações dadas pelo sr. Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro. Ele falou da importância da educação nesta nova era e então descreveu sua experiência em uma base militar próxima. Lá, ele encontrou com alguns homens com Síndrome de Down, que tinham sido mediados pelo método de Feuerstein e que estavam agora servindo com o uniforme das Forças de Defesa de Israel (IDF). Ele mencionou o orgulho desses homens em estarem prontos para vestirem o uniforme e cumprir com suas obrigações militares. Ele também falou de sua gratificação na aceitação desses soldados pelo comando militar. Em um ponto ele disse: 'Eu tive grande dificuldade em conter minhas emoções quando eu vi e falei com estes homens afligidos com a Síndrome de Down'”. Benjamin Netanyahu também disse: “Um pais deveria ser julgado pela forma como ele trata os mais vulneráveis de seus cidadãos”.
Como parte da cerimônia de abertura, Prof. Feuerstein disse: “O PEI foi testado durante muito tempo e em uma grande e variada população, e essas pesquisas demonstram que apesar dos danos cognitivos causados por choque cultural, acidentes físicos, traumas na infância por abusos ou extrema pobreza, negligência dos familiares... apesar de tudo isso, o funcionamento cognitivo desses sujeitos se desenvolveram. Experiências nos dizem que esse desenvolvimento é sem limites”.
Para o autor a aprendizagem pelas vias da mediação, deve ser compreendida diferentemente da aprendizagem pela exposição direta do sujeito ao objeto ou estímulo. Ou seja, há a necessidade da intervenção de um mediador humano, que para ele é um sujeito cuja ação mediadora é intencional e não-ingênua. Ele se interpõe entre o sujeito (mediando/aprendiz) e o mundo (no sentido amplo – conteúdo, estímulo, objeto, etc.), conduzindo a reflexão e interação tendo em vista a introdução de pré-requisitos ou recursos cognitivos (da dimensão do pensar) que potencializarão progressivamente a capacidade de aprendizagem deste sujeito.
Deve-se mencionar que o conceito de “mediador” e “mediação”, são tratados aqui de forma específica, e não em sentido amplo. Tais terminologias são aplicadas em outros âmbitos da educação com conotações diversas. Porém, para a abordagem de Reuven Feuerstein ou da EAM (Experiência da Aprendizagem Mediada), para que haja mediação são necessários pelo menos 3 critérios:
(1) Mediação de intencionalidade e reciprocidade: Intencionalidade por parte do mediador e reciprocidade perante o mediado para focagem e satisfação das necessidades do mediado;
(2) Mediação de transcendência: Transcendência da realidade concreta, “do aqui-e-agora” e da tarefa aprendida, generalizando para posterior aplicação da compreensão de um fenômeno apreendido em outras situações e contextos;
(3) Mediação de significado: Construção (incitada pelo mediador) de significados que permitam compreender a importância da aprendizagem e interpretar os resultados alcançados.
Estes critérios foram observados empiricamente por Feuerstein, como fatores comuns em toda situação de mediação. Em seguida será ampliado o significado de cada um destes critérios.
Por intencionalidade do mediador e reciprocidade do mediando, entende-se a consciência do interventor humano em sua tarefa ante o mediado e o estímulo, ou seja, clareza de suas intenções educativas. Não se ensina ou se estimula para o nada. Há sempre uma intenção um objetivo, nenhum processo educativo pode ser realizado sem objetivos. Da mesma forma o mediado deve dar um feedback e estar consciente de que, ante uma situação de aprendizagem mediada, o que se tem não é apenas o cumprimento de uma tarefa, mas que há uma intenção que transcende a situação posta.
A construção de significados, é quando o mediador trabalha com a elaboração de valores e códigos culturais (linguagem). Para que haja mediação, é necessário trabalhar com o uso apropriado das palavras e a significação de símbolos e representações que estão antepostas ao mediado. O mediador introduz problematizando, conceitos e significados. Afinal o mediado compreenderá uma realidade dada a partir de sua leitura de mundo, que por sua vez é elaborada por sentidos e significados que ele dá aos estímulos de sua realidade objetiva. Aqui a linguagem, na perspectiva vygotskyana, é um instrumento ou uma ferramenta psicológica de intervenção e estruturação do pensamento. O mediador tem como função introduzir e aprimorar no mediado estes instrumentos.
Por transcendência, entende-se algo que foi aprendido e logo foi extrapolado para outras dimensões espaço-temporal da vida do mediado. Ou seja, no processo de mediação o mediador deve ter a capacidade de conduzir o aprendiz para além do problema a ser resolvido. Universalizando ou transcendendo as soluções adquiridas ante uma situação-problema imediata, conduzindo-o a pensar sobre a aplicabilidade destes conceitos em outras situações de sua realidade. Para Feuerstein, se há a presença destes 3 critérios, há Aprendizagem Mediada.
Quando se fala de EAM dentro desta estrutura básica, fala-se de aprendizagem mediada em todas as dimensões humanas. Informalmente uma mãe ensina seu filho a andar e falar, uma criança aprende a andar de bicicleta, etc.
Há vários centros autorizados[2] no Brasil que dão treinamento no Programa de Enriquecimento Instrumental (PEI), o referido instrumento - segundo o autor - não deve ser aplicado sem o devido treinamento realizado por centros sob a supervisão do ICELP-Jerusalém-Israel."
In: http://pt.wikipedia.org/wiki/Reuven_Feuerstein, acessado em 20.03.2012
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15 março 2012

Concurso para pessoas com Deficiências

É uma notícia sem precedentes, e como nosso amigo Jairo escreveu na Folha, só podemos reproduzir mais uma vez suas palavras. Ele sabe com propriedade escrever sobre o assunto em cima de sua cadeira de rodas. E além disso seu humor é contagiante.


Concurseiros mal-acabados”!


Na semana passada, recebi um informativo da Defensoria Pública de São Paulo que achei ‘inacreditível’…
O órgão, que é responsável por fazer a defesa dos ‘pessoais’ mais pobrinhos diante de pendengas judiciais, vai fazer, em maio, um concurso para selecionar novos defensores.
Como estabelecido por lei, 5% das vagas estão reservadas pro povo ‘malacabado’ (em qualquer nível, desde que esteja apto para desenvolver a função).
Pois bem, até aí, tudo normal. Acontece, porém que a Defensoria está disposta a fazer um concurso absolutamente acessível (como deveriam ser todos) para deficiências físicas e sensoriais quaisquer.

Dessa forma, o candidato que requisitar terá direito a:
- Candidatos com deficiência auditiva (os surdões E:???: ) poderão realizar provas com auxílio de gravações em vídeo (com legendas) e ou traduções em libras.
- Se necessário, os surdos também poderão contar com o apoio de intérpretes
- Os prejudicados das vistas terão provas em braile ou com auxílio de tecnologia de computação – podendo optar por softwares de sintetizadores de voz, leitores de tela ou de ampliação de leitura
- Os cadeirantes e demais estragados do esqueleto podem solicitar mobiliário adaptado e espaços adequados à realização da prova, além da designação de um fiscal para auxiliar em seu manuseio
O edital também prevê acessibilidade aos locais de prova e eventual tempo adicional para realização dos exames, caso necessário e justificado por parecer médico.
Todos os recursos estarão disponíveis desde que o candidato, na hora da inscrição, que pode ser feita pelas internets até o dia 11 de abril …
(para saber mais, clica no bozo ) requeira aquilo que necessita.
Claro, ‘zente’, tudo isso parece óbvio para um mundo que respeita o básico da diferença entre as pessoas, mas eu mesmo coleciono diversos relatos de leitores que enfrentaram o cão chupando manga na hora de fazer uma prova. :shock:
Carreiras públicas é um caminho ‘bacanudo’ a ser seguido, também, por pessoas com deficiência. Como o que conta, neste caso, é conhecimento para ir bem nas provas, o risco de ser barrado por um preconceito estúpido de recrutador desaparece.
A reserva de vagas também é uma vantagem imensa pros ‘matrixianos’. Contudo, não adianta achar que, como a concorrência é menor, a vaga tá no papo…. Todo concurso público tem uma exigência mínima de pontuação para ser aprovado… loooogo.
Antes de escolher um cargo para concorrer, os ‘dificientes’ também precisam analisar com atenção quais as exigências que o edital coloca para o desenvolvimento de uma função.
Mesmo aprovado nas provas, um candidato pode ser barrado no momento da análise médica. Nesse caso, o médico pode concluir que o sujeito com paralisia cerebral, por exemplo, não tem condições para desempenhar a função xyz.

Óbvio, minha gente, que isso é um tanto questionável, que há casos em que a avaliação é feita de uma maneira porca, sem levar em conta a realidade do candidato ‘malacabado’ e como ele se adaptou ao longo da vida para fazer tudo…
E isso a gente combate, a meu ver, não fazendo jamais drama ou papel de vítima. É preciso deixar muito claro para o avaliador suas capacidades de fazer aquilo que é exigido. Em último caso, o negócio é acionar a Justiça.
O serviço público costuma pagar bem, dá estabilidade e benefícios. Então, bora avançar por mais esse campo de ação, meu povo!!!

In: http://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2012/03/14/concurseiros-mal-acabados/ acessado dia 15 de março de 2012
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12 março 2012

Começando nosso Ano...

Faz tempo que queremos publicar alguma coisa do blog, do Fábio Ludwig, pai do Antonio, marido da Ana, redator publicitário. O Antonio tem uma síndrome rara. Escolhemos um dos seus textos, e foi difícil escolher, pois, há tanto textos formidáveis no seu blog. Como poderão ler, ele passou a escrever esse blog depois que nasceu seu filho. Compartilhamos este texto porque acabou o carnaval, e agora como dizem começa o ano. Então vamos construindo nossa humanidade na prática de sermos bons conosco e com todos, construindo um mundo de convivência igualitária, inclusiva, solidária e cuidadosa para conosco e para com os outros.


"Top five"  

 

 


“Parada de fim de ano. Volto no dia 11. Feliz 2012 para todos nós.”
 

"Esta frase foi escrita pelo jornalista e escritor Daniel Piza, em seu blog, no site do jornal O Estado de São Paulo, no dia 28 de dezembro do ano passado. Dois dias depois, Piza faleceu devido a um AVC. Assim, sem mais nem menos. Sem chances de evitar, sem chances de prever. Uma interrupção abrupta da vida: um crime. Poderia ser eu, poderia ser você.
 
Sempre tive uma péssima relação com a morte. Entendo que é um processo natural, mas invariavelmente fico com um sentimento de injustiça, como se fosse cedo demais, ou cruel demais, dependendo do dia ou da forma que a maldita resolva aparecer. Por mais que o próprio moribundo aceite que chegou a sua hora, o que se faz com quem fica para trás? Morte é pessoal e intransferível, mas parece que leva um pouco – às vezes muito­ – de quem continua a viver.


Há alguns dias circulou pela internet uma carta que um inglês, vítima de câncer, escreveu para os filhos antes de morrer. As crianças eram pequenas e ele sabia que tinha pouco tempo pela frente. Então deixou diversos conselhos por escrito, para que seus filhos lessem quando pudessem compreender – e para que soubessem um pouco mais dos valores deste pai que mal puderam conhecer.
 

A carta é emocionante. Não só pela ética e pelo carinho transmitidos a cada palavra, mas principalmente pelo paradoxo que aquele homem viveu quando teve a própria morte anunciada. Ao mesmo tempo em que estava indubitavelmente triste pela consciência do próprio fim, soube ver a oportunidade que tinha nas mãos e agarrou com todas as forças o privilégio de poder se despedir. Disse tudo o que precisava ser dito. Melhor, deixou por escrito. Com aquelas poucas linhas, marcou seus filhos para o resto da vida, mesmo sem poder estar presente. Faleceu com um motivo a menos para se arrepender.


Também no fim do ano passado, em outro texto que chegou a mim pela internet, Frei Betto mencionou uma australiana que trabalhou com doentes terminais e que, com base nesse convívio, elencou os cinco principais arrependimentos de quem está perto da morte. São eles:

1. Gostaria de ter tido a coragem de viver uma vida verdadeira para mim, e não a que os outros esperavam de mim.

2. Gostaria de não ter trabalhado tanto.

3. Gostaria de ter tido a oportunidade de expressar meus sentimentos.

4. Gostaria de ter tido mais contato com meus amigos.

5. Gostaria de ter tido a coragem de me dar o direito de ser feliz.



Fiquei um bom tempo refletindo sobre o terceiro ponto: “gostaria de ter tido a oportunidade de expressar meus sentimentos.” O que nos impede? Minha hipótese é que muitos de nós não estamos acostumados a dizer o que sentimos porque nos achamos isentos da efemeridade da vida. Mudos, vamos tomando o não dito por dito, perpetuando situações mal resolvidas, deixando emoções subentendidas, até que um dia a vida cobra a conta. Medalha de bronze. Terceiro maior remorso na hora de bater as botas.


Casos como o de Daniel Piza são brutalmente inesperados, por isso nos assustam e nos entristecem tanto. Por outro lado, o anúncio antecipado da própria morte, como o do pai inglês, também é um presente bastante amargo de se receber. Como falei, minha relação com a morte é a pior possível. Todas as hipóteses são ruins. Sessenta, oitenta, cem: qualquer idade é pouco para tudo o que tenho vontade de fazer.


Porém, se quisermos fazer uma leitura menos mórbida, a vulnerabilidade do ser humano e a iminência da morte são também uma oportunidade de renascimento. Há poucos dias um amigo se livrou de um acidente de carro impressionante: rolou barranco abaixo, foi jogado para fora do veículo, mas teve apenas alguns ferimentos. Tive também a oportunidade de conhecer uma pessoa que sobreviveu a dois AVC e se recupera incrivelmente bem.
 

Não vou cair no lugar comum de dizer que temos que viver cada dia como se fosse o último. É ingênuo na teoria. E impossível na prática. Porém, já que a vida não está mesmo em nossas mãos, o melhor que temos a fazer é tentar diminuir aquela lista de cinco arrependimentos ali em cima. É isso que tenho feito a cada texto que escrevo. Pouco a pouco, o terceiro tópico da lista (“gostaria de ter tido a oportunidade de expressar meus sentimentos”) vai sumindo da minha lista de possíveis pesares. Talvez um dia eu até possa me arrepender de expor uma parte importante da minha vida pessoal aqui. Mas com a quantidade de apoio que tenho recebido, com a quantidade de amigos que têm aparecido e reaparecido, posso afirmar com segurança: de solidão não vou morrer."
 

Para quem tiver interesse, todos os links que comentei no texto:

Blog do Daniel Piza

Carta do pai inglês: 28 lições de vida

Texto de Frei Betto: A arte de reinventar a vida





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