18 dezembro 2013

O que podemos fazer por crianças bem pequenas (O a 2 anos) com Paralisia Cerebral nível IV/V Sistema de Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS – Gross Motor. Function Classification System)


Neste post  pretende-se apresentar o conceito de tratamento mais utilizado na prática terapêutica com a utilização de recursos assistivos, fundamentados nesse conceito.

Quando começamos a desenvolver e aplicar recursos assistivos há 23 anos, denominamos esses recursos de  Tecnologia Terapêutica Dinâmica, tendo em vista que esses produtos assistivos eram fundamentados no dinamismo dos princípios de tratamento neuroevolutivo, Conceito Bobath.


O primeiro  estudo que fizemos, desenvolvido em parceria com o CNPq,  demonstrou o potencial desses recursos tecnológicos como coadjuvantes terapêuticos. Os equipamentos eram o  módulo ergonômico ajustável  (hoje nossos sistemas de posicionamento personalizáveis :  AX2, Ergoenvolvente, TFK Postural, Mobibaby, etc. )  e o Sustentador dinâmico de cabeça (Levitar de cabeça).






Levitar de Cabeça






                                                           
     TFK Postural
O termo Tecnologia Assistiva foi trazido para o Brasil após a  III Conferencia Europeia de Tecnologia Assistiva, em 1995, em Lisboa - PT, onde a comunidade de países lusófonos - representando o Brasil foram 22 participantes  - optou pela melhor tradução da palavra em inglês Assistive Technology para Tecnologia Assistiva em português.

Portanto,  desde aqueles dias o termo Tecnologia Terapêutica Dinâmica, está contido dentro da ciência Tecnologia Assistiva. E desde 1990, após o término do projeto com o CNPq, estamos priorizando enfaticamente a funcionalidade postural, que é traduzida em posturas adequadas do corpo como um todo,
em ambientes adequados para um conjunto de atividades adequadas.

E nesse universo de funcionalidade, optamos por enfocar crianças com grave paralisia cerebral, principalmente bebes.
Hoje em dia a rede social, e diversos grupos e associações, podem ajudar aos  pais de  bebes com paralisia cerebral a compreender o diagnóstico e os primeiros desafios, facilitar informações importantes em várias áreas e trocar experiências. O acolhimento psicológico e social nessa fase para o casal é tão importante quanto os procedimentos terapêuticos.
Ao recortar essa população, e essa faixa etária, tivemos  um objetivo: através da prevenção e das práticas terapêuticas mais aceitas internacionalmente,  divulgar e promover os recursos que poderão evitar futuras deformidades,   desenvolvimento motor mais organizado e  crianças com maior potencial para as diversas funções correspondentes às suas dificuldades.

Qual então seria a principal estratégia inicial de reabilitação para esses bebês? Consagrado até o presente momento como a “metodologia” mais eficaz para o atendimento de bebes e crianças, o Conceito Bobath – Tratamento Neuroevolutivo, prioriza inicialmente o cuidar do bebe: alimentação, higiene, troca de roupas e fraldas, e posturas no dia-dia e a noite, como as ocasiões mais adequadas para capacitar pai e mãe em manuseio facilitador e organizador de assimetrias.  Essa rotina que é comum a todas as crianças será ligeiramente diferenciada e treinada sucessivamente até que para esses pais, se torne uma atividade simples e fácil de ser executada que será incorporada sem pesos emocionais extras.

Estabelecendo essa rotina de “manobras “ que são feitas diversas vezes ao dia, estamos proporcionando nesse primeiro momento uma organização familiar e do bebe, sem precedentes, que promoverá padrões posturais mais organizados e eficazes (conforme  diversos estudos inicialmente feitos na Suíça, e em outros países,  nas décadas de 70, 80 e 90).

A mielinização ainda estará incompleta, e estímulos ambientais que “solicitem” o funcionamento de determinadas vias irão acelerar a mielinização. A maior parte das fibras nervosas terá a  mielinização completada antes do segundo ano de vida. Durante o primeiro ano de vida, um neurônio cortical estabelece cerca de 100.000 sinapses com outros neurônios. E essa arborização dendrítica,  espessa as camadas cerebrais na velocidade da oferta de estímulos. 

O carregar, tanto no colo, como no cesto do carro e do carrinho, precisarão ser avaliados e determinados de forma a facilitar o desenvolvimento motor do bebe, e inibir atividades motoras recorrentes e reflexas, não compatíveis com o estágio de desenvolvimento. Devem  ser observadas as reações auditivas , visuais e gustativas.

Quanto mais ofertas de mobilidade e posicionamento adequados, mais respostas harmonizadas e funcionais o bebe irá apresentar. Justamente neste período, evitar que o bebe incorpore padrões de movimentos sincrônicos com os reflexos, que estarão mais facilitados nessa fase, pela forte presença reflexa. 

Essa forte presença reflexa, Reflexo Tônico Cervical Assimétrico, tenderá a determinar o lado preferencial de observação visual (quando não há comprometimento do sentido visual ), que também afetará todo o hemicorpo correspondente, trazendo potencial grave assimetria  futura. O Reflexo Tônico Labiríntico irá reforçar o padrão extensor de cabeça e de braços conjuntamente, impedindo o bebê de realizar dissociações posturais.

Do ponto de vista neurológico, sabe-se a partir dos exames, ressonâncias e demais, a gravidade de um quadro neuromotor, e assim sendo, a priorização de recursos tecnológicos deve estar associado à pratica terapêutica.

É comum, no Brasil, os terapeutas utilizarem almofadas de espumas de vários tamanhos, para o posicionamento do bebe no carrinho, berço, bebe conforto, etc. Porém essas almofadas, devido as características da espuma, não são eficazes para contrapor a força assimétrica e labiríntica dos reflexos. O bebe fica em aparente conforto, encoberto pelas almofadas em padrões reflexos continuado.

A prevenção é tão fundamental nessa fase, pois poderá determinar a funcionalidade futura desse bebê.  Por conta dessa prevenção desenvolvemos há 24 anos sistemas de posicionamento eficazes para bebês com quadro neuromotor grave:   Ergotrol e TFK postural.


                                                               
                                           
Ergotrol                                

                                                                TFK
                                                                   
      
                                                                                                                                                                               

Ambos os equipamentos mantêm alinhamento simétrico de cintura escapular e pélvica. São produtos assistivos, que apresentam regulagens milimétricas tanto ergonômicas como terapêuticas. Vários estudos efetivados, em diversos países,demonstram a eficácia do posicionamento sentado e em pé, para a prevenção de deformidades de coluna e de membros inferiores.

Para evitar-se as deformidades de membros superiores, nossa linha de órteses Tuboform foi projetada desenvolvida e aplicada em bebês e crianças com deficiências neuromotoras. (Premio Finep 2012)

Tuboform TFP2 - Estabilizador de Punho e polegar.


Também nossa linha de Integração Sensório-Motora pode ser utilizada como facilitadora de manobras motoras tanto para os bebês como para os terapeutas.




I

Imagens gentilmente cedidas pela CECCATO: http://www.clinicaceccato.com.br/

Como não é intenção neste post, formular receitas de estratégias de tratamento de bebês, coloco-me a inteira disposição para maiores informações.

Gisleine Martin Philot
Terapeuta Ocupacional
Consultora Internacional em Tecnologia Assistiva

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