31 janeiro 2012

A Ciência do Otimismo parte II

Continuação....

Quem é otimista faz naturalmente esse movimento. Para a maioria dos brasileiros, por exemplo, o Congresso é formado por uma corja de ladrões e a única solução seria a prisão coletiva. Essa, porém, nunca foi a solução antevista pelo publicitário mineiro Fernando Barreto, 39 anos, um otimista político de carteirinha. “Não acreditar na validade do sistema democrático é o mesmo que desistir dele”, afirma. “O que precisamos é fazê-lo evoluir e, para isso, a gente precisa acreditar nele.” Em vez de gastar o tempo falando mal dos deputados e senadores em mesas de bar, Barreto reuniu dois amigos e foi pensar ferramentas que permitissem aos cidadãos monitorar seus representantes. Na frente do computador, inventaram o Vote na Web, plataforma por meio da qual é possível acompanhar o trabalho dos legisladores – como votam e o que propõem. “Ouvimos muito a frase ‘brasileiro não gosta de política, isso não vai dar certo’”, diz. De ideia de maluco a iniciativa louvada pela Organização das Nações Unidas foram menos de três anos.

“Sem otimismo você não sobrevive ao
tratamento. Ele é doloroso e exige muito”
OTIMISTA NA DOENÇA
Carla Mannino, que passou por dois anos de quimioterapia e
radioterapia para tratar um câncer de mama diagnosticado em 2006


Se o otimismo de uma pessoa ou de um pequeno grupo já é capaz de gerar iniciativas interessantes, como é o caso do Vote na Web, o que não dizer do comportamento positivo generalizado? Quando centenas, milhares de pessoas acreditam que algo vai dar certo, dá certo? A resposta, de acordo com um grupo de pesquisadores da Universidade de Miami, nos Estados Unidos, é sim. Para chegar a essa conclusão, eles realizaram um estudo pioneiro em que cruzaram índices de recuperação econômica e otimismo da população nos Estados Unidos. Quando havia mais otimismo, a recuperação acontecia de forma mais rápida. “O resultado nos surpreendeu. Estamos planejando agora um estudo para avaliar se o mesmo mecanismo pode ser aplicado às empresas”, disse à ISTOÉ Alok Kumar, coordenador do trabalho. Laure Castelnau, diretora-executiva de marketing e novos negócios do Ibope Inteligência – responsável por levantar os dados brasileiros para o Barômetro Global do Otimismo –, explica que esse é o motivo do interesse em se medir o otimismo da população. “É uma medição da expectativa. Ele mostra o que as pessoas esperam em relação aos preços, à educação e ao crescimento econômico”, diz.
Um bom exemplo de aposta no otimismo coletivo é o Fórum Social Mundial. Nascido em solo brasileiro, na cidade de Porto Alegre, em 2000, desde então, o evento reúne, anualmente, milhares de manifestantes embalados pelo lema de que “um outro mundo é possível” para debater propostas relacionadas ao bem coletivo. Um dos criadores do modelo é o político e ativista Chico Whitaker, 80 anos, “um otimista social”, como ele mesmo gosta de se definir. O conceito, explica, usa em contrapartida ao otimista individual. Enquanto este se move pela confiança em si e pela ambição, aquele tira forças da confiança no outro e da esperança. “Não é uma visão Poliana”, faz questão de justificar, numa analogia à personagem da literatura juvenil imortalizada pelo “jogo do contente” (estratégia por ela inventada para sempre ver o lado bom das situações ruins). “Mudar o mundo é ‘dificilérrimo’, mas, apesar disso, é preciso continuar.” Pode parecer utópico, mas, se a ciência mostrou a influência do otimismo de um povo na recuperação econômica de um país, por que esse mesmo fator não poderia impactar na desigualdade social?

E não é só fora de casa que o clima otimista ajuda. Entre quatro paredes, pensar positivo também traz ganhos. Para o psicólogo Tal Ben-Shahar, que se tornou famoso por lotar salas de aula na Universidade Harvard (EUA) para ensinar psicologia positiva, o otimista faz bem ao seu entorno. “Para o otimista, estar em uma relação é uma forma de se sentir mais forte diante dos problemas”, disse Ben-Shahar à ISTOÉ. Enxergando o companheiro como aliado, e não como inimigo, a situação doméstica fica harmoniosa. “O otimista dá mais apoio ao companheiro e isso ajuda a resolver os conflitos de um modo mais construtivo e menos violento”, disse à ISTOÉ Sanjay Srivastava, pesquisador do laboratório de personalidade e dinâmica social da Universidade de Oregon, nos Estados Unidos. Isso não necessariamente os faz se divorciar menos, mas encarar com desenvoltura novas relações.
“O que precisamos é fazer o sistema democrático evoluir e,
para isso, a gente deve acreditar nele, não desistir nunca”

OTIMISTA POLÍTICO
Fernando Barreto, publicitário que, com amigos, resolveu criar
uma ferramenta para acompanhar o trabalho dos congressistas


Que o diga a blogueira e escritora paulista Gisela Rao, 47 anos. Feliz como se fosse subir ao altar pela primeira vez, ela se prepara para consumar o terceiro casamento, em março, com o representante comercial Beto Lima, 33 anos. “É diferente, estou mais madura na relação”, diz. Desta vez, garante, o futuro marido é “do seu número”. “Escolhi alguém dentro do perfil que eu queria. Nos outros casamentos não tinha essa mesma clareza.” Após ouvir uma entrevista de Gisela sobre seu livro “Não Comi, não Rezei, mas me Amei” (Editora Matrix), Lima resolveu procurá-la. Foi amor à primeira vista. Em três meses estavam noivos e de casamento marcado. Os fantasmas dos relacionamentos passados, garante a escritora, não assombram a felicidade que transborda do casal atualmente.

Não só metaforicamente o otimismo faz bem ao coração. Está comprovado: acreditar no amanhã protege de doenças cardiovasculares. Em um estudo feito pela Universidade de Michigan (EUA), um ponto a mais de otimismo, em uma escala que variava de zero a 16, representava 9% a menos de chance de ter um infarto. Quem é mais otimista abraça de forma mais contundente suas obrigações de paciente. Toma a medicação de forma controlada e adere às dietas alimentares sem reclamar. Além do sistema cardiovascular, a imunidade também melhora. “Avaliando um grupo de 124 estudantes, observamos que, quando estavam mais otimistas que o usual, o sistema imunológico respondia de forma mais consistente”, explicou à ISTOÉ a cientista Suzanne Segerstrom, da Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos.


“Mudar o mundo é ‘dificilérrimo’, mas,
apesar disso, é preciso continuar”

OTIMISTA SOCIAL
Chico Whitaker, um dos fundadores do Fórum Social

 

Por isso muitas equipes de saúde focam seus trabalhos em fazer com que os pacientes de enfermidades graves enfrentem com otimismo os tratamentos aos quais devem se submeter. “Os estudos apontam para uma relação entre estresse, depressão e progressão da doença”, diz Carla Mannino, especialista em psico-oncologia da CliniOnco, em Porto Alegre. Foi com lenços na cabeça, orações e esperança que a aposentada gaúcha Mara Fátima Parassolo, 56 anos, superou os quase dois anos de radioterapia e quimioterapia para extirpar um câncer de mama. Ela recebeu o diagnóstico no dia 4 de julho de 2006. “Na hora desabei, mas no dia seguinte percebi que eu precisava me erguer e partir para a segunda etapa, que era me tratar.” Quando soube que teria de fazer uma quimioterapia “daquelas que o cabelo cai”, não titubeou. Foi ao salão e passou máquina zero na mesma hora. “Sem otimismo você não sobrevive ao tratamento. Ele é doloroso e exige muito do paciente.”

Como tudo na vida, todavia, excesso de otimismo também faz mal. É inegável que na sociedade contemporânea há uma pressão social muitas vezes exacerbada exigindo que as pessoas enxerguem sempre o lado bom da vida, sejam felizes e não sofram. “No esforço de evitar o sofrimento o ser humano já fez muita tolice”, alerta o filósofo Paulo Vaz, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O risco de se tornar um otimista patológico é superestimar as expectativas positivas. A economista Manju Puri, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, afirma que a falta de avaliação de riscos deixa essas pessoas muito expostas. “Quem tem esse perfil pensa que não é preciso poupar dinheiro e que a economia vai sempre estar melhor”, afirma. O resultado disso é que, por excesso de confiança, a pessoa não se previne. “O pessimismo também tem seus benefícios, ele nos protege de desapontamentos”, avalia a psicóloga Kate Sweeny, da Universidade da Califórnia (EUA), autora de um artigo em que defende o comedimento nas doses diárias de otimismo. Por isso, acredite no otimismo. Mas, como tudo na vida, use com moderação.
Mundial, acredita que é possível melhorar a sociedade


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30 janeiro 2012

A ciência do Otimismo - parte I

Pesquisas mostram que 80% das pessoas têm uma tendência natural para o comportamento positivo. E que ele protege de doenças, alimenta a autoestima e até melhora relacionamentos

Rachel Costa

2012 mal começou e já carrega uma série de prognósticos preocupantes. A crise econômica mundial não deve arrefecer e, na Europa, a situação dos países da zona do euro está cada vez pior. O crescimento projetado para o Brasil é bem menor que o registrado nos últimos tempos e há até quem acredite, lançando mão de um calendário maia, que este será o derradeiro ano da nossa existência sobre o planeta. Nada animador. Apesar dos tons acinzentados dessas previsões, boa parte dos brasileiros entrou o ano imerso em boas expectativas. Basta checar os números recém-divulgados do Barômetro Global do Otimismo, uma pesquisa mundial que mede a presença desse sentimento pelo mundo, para constatar que a onda “pra frente Brasil” toma conta do País: 74% da população acredita que, sim, apesar de todas as sinalizações pessimistas, 2012 será melhor que 2011. E nem adianta evocar a crise mundial ou desfiar dados negativos da economia, pois 60% dos entrevistados estão confiantes de que os próximos 12 meses serão um período de prosperidade econômica.

De um lado a expectativa, de outro, a realidade. A aparente disparidade entre esses dois ângulos, acredite, não é um erro de cálculo. Pelo contrário, é uma elaborada estratégia do nosso cérebro para nos fazer seguir adiante. A artimanha atende pelo nome de “viés otimista” – a tendência dos nossos neurônios de pender para o otimismo ao projetar o futuro. A boa notícia é que esse modus operandi não é exclusividade de alguns poucos. Estima-se que essa seja a dinâmica cerebral de 80% das pessoas. E os impactos do otimismo, comprova a ciência, vão bem além de sonhar com um futuro melhor. Ele aumenta a autoestima, facilita os relacionamentos, movimenta a economia e faz bem à saúde.
                  
“Estou mais madura na relação e escolhi
alguém dentro do perfil que eu queria”
OTIMISTA NO AMOR
Gisela Rao, que após dois casamentos frustrados não teve medo de encarar um novo matrimônio e
                        se prepara para subir ao altar com Beto                          

Intrigada com a tendência do cérebro humano de enxergar o amanhã como uma grande promessa, a neurocientista Tali Sharot, da University College London, no Reino Unido, dedicou-se a compreender o fenômeno e descobriu que há uma certa dose de conveniência no nosso comportamento. “Não é que não pensemos em coisas ruins para o futuro, mas sim que nossos neurônios são eficientes ao armazenar as expectativas boas, mas falham ao incorporar informações ligadas às expectativas ruins”, disse à ISTOÉ. Como resultado dessa equação desequilibrada, pendemos para o otimismo. Parece difícil acreditar? “Experimente projetar quantos anos você viverá”, provoca a cientista. “A maior parte das pessoas superestima a expectativa de vida em 20 anos ou mais” (entre os brasileiros, por exemplo, a expectativa de vida é de 73 anos). Da mesma forma, é difícil alguém se casar achando que vai se separar, embora 40% das uniões no Brasil terminem na primeira década.

Tali foi além e mapeou o que ocorria no cérebro durante a elaboração dos pensamentos positivos. Quando eles ocorrem, há uma queda na atividade do córtex pré-frontal, região responsável por monitorar a diferença entre a realidade e o que imaginamos para o futuro. Quanto maior o grau de otimismo, menor a atividade nessa área, gerando o fenômeno descrito pela pesquisadora. Tudo isso é um mecanismo de autoproteção. “Entre os animais, somos os únicos que temos a noção de finitude”, diz o neurocientista Antônio Pereira, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. “Ter ciência dessa condição poderia nos impedir de realizar projetos futuros, em especial aqueles de longo prazo.” Assim, durante a evolução, nosso cérebro aprendeu a esperar sempre mais do amanhã. A falha desse mecanismo, para Tali, vem acompanhada dos quadros de depressão – que estariam representados justamente por aqueles 20% de pessoas em que não se observa o “viés otimista”.
Se não acreditasse que o mundo seria diferente, certamente o designer carioca Flávio Deslandes, 39 anos, teria abandonado, em 1995, o ousado projeto que lhe ocupava a cabeça: construir bicicletas de bambu. “Ouvi de professores que era loucura, que não iria dar certo”, diz. Afinal, ele havia escolhido um material tido como de segunda linha (o bambu) e um produto com pouco glamour (à época, usar bike como meio de transporte era associado à falta de dinheiro). Mesmo assim, Deslandes seguiu na empreitada e, em 2000, sua bicicleta de bambu estava à venda na Dinamarca, país onde foi morar. Desde então, a ideia vem recebendo vários prêmios de design e ganhando fama mundial como uma alternativa ecológica para o transporte. “O otimismo nos faz assumir riscos e, com isso, avançar”, avalia o psiquiatra Irismar Reis de Oliveira, da Universidade Federal da Bahia.


Ouvi de professores que era loucura, que não iria
dar certo, mas eu acreditava na ideia e resolvi tentar”
OTIMISTA EMPREENDEDOR
Flávio Deslandes, empresário que fabrica bicicletas de bambus premiadas no mundo inteiro


Parte dessa força motriz capaz de alterar até o funcionamento de nossos cérebros está guardada em nossos genes. Alguns deles controlam o transporte de serotonina, neurotransmissor que tem, entre outras, a função de regular o humor e o comportamento das pessoas. Já era de conhecimento dos cientistas que falhas nesse gene aumentavam as chances de depressão após eventos negativos. Um passo além, porém, foi dado por pesquisadores da Universidade de Essex, no Reino Unido, que descobriram outra alteração no mesmo gene 5-HTTLPR, que faz as pessoas enxergar melhor as coisas boas – literalmente. No experimento, 97 voluntários buscavam por um ponto em meio a imagens que podiam ter conteúdo positivo, negativo ou neutro. Quem tinha a alteração, demorava mais para encontrar o ponto nas imagens com remissão a coisas ruins e era mais rápido nas cenas positivas. “Como se tivessem uma espécie de aversão às imagens negativas”, compara Elaine Fox, coordenadora da pesquisa. Agora, os cientistas buscam outros mecanismos genéticos que expliquem por que algumas pessoas são naturalmente otimistas. “Não existe um único gene do otimismo”, afirmou Elaine à ISTOÉ. “O 5-HTTLPR é apenas um que conseguimos descrever o funcionamento.”

Enquanto esse quebra-cabeça biológico não é decifrado, outra aposta é na criação de métodos para ensinar o otimismo. O expoente dessa busca é o americano Martin Seligman, pai da psicologia positiva, disciplina criada por ele na década de 1980. Incomodado pela profusão dos estudos sobre doenças mentais na psicologia, Seligman se propôs a abandonar a patologia e pesquisar o lado bom da vida. Otimista nato, ele dedicou seus últimos 30 anos a enumerar os benefícios do comportamento positivo. Em suas pesquisas, os políticos otimistas ganham mais eleições, os estudantes otimistas têm melhores notas e os atletas otimistas vencem mais competições. E, para desespero dos pessimistas, a falta do gene do otimismo não é desculpa. É possível alterar o comportamento de uma pessoa para torná-la mais otimista, garante a psicologia positiva. “Otimismo é crer que as situações ruins são temporárias”, define Daniela Barbieri, presidente
da Associação de Psicologia Positiva da América Latina. “É possível aprender a ter essa reação por meio da identificação e do monitoramento do pensamento negativo”, esclarece. A fórmula é simples. Antes de decretar que não vai dar certo, pense se não há alternativas menos aterrorizantes.




.....continua parte II

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23 janeiro 2012

21 exercícios de neuróbica que deixam o cérebro afiado


Evitar fazer tudo no automático ajuda a turbinar a memória e a concentração


Quem foi que disse que o cérebro não precisa de exercícios para se manter ativo? Se o nosso corpo necessita de malhação para ficar sempre em ordem e cheio de disposição, por que com a mente seria diferente?

O cérebro também vai perdendo sua capacidade produtiva ao longo dos anos e, se não for treinado com exercícios, pode falhar. O neurocientista norte-americano, Larry Katz, autor do livro Mantenha seu Cérebro Vivo, criou o que é chamado de neuróbica, ou seja, uma ginástica específica para o cérebro.

A teoria de Katz é baseada no argumento de que, tal como o corpo, para se desenvolver de forma equilibrada e plena, a mente também precisa ser treinada, estimulada e desenvolvida. É comum não prestamos atenção naquilo que fazemos de forma mecânica, por isso costumamos esquecer das ações que executamos pouco tempo depois.

"O objetivo da neuróbica é estimular os cinco sentidos por meio de exercícios, fazendo com que você preste mais atenção nas suas ações e então, melhore seu poder de concentração e a sua memória", explica a psicóloga especialista em análise comportamental e cognitiva, Mariuza Pregnolato. "Não se trata de acrescentar novas atividades à sua rotina, mas de fazer de forma diferente o que é realizado diariamente".
neuróbica
Para o neurologista da Unifesp Ivan Okamoto, tais exercícios ajudam a desenvolver habilidades motoras e mentais que não costumamos ter em nosso dia a dia, porém, tais habilidades em nada se relacionam com a memória.

"Se você é destro e começa a escrever com a mão esquerda, desenvolverá sua coordenação motora de modo a conseguir escrever com as duas mãos e caso um dia, tenha algum problema que limite a escrita com a mão direita, terá a esquerda bem capacitada para isso. Mas o fato de praticar este tipo de exercício não significa que você se verá livre de problemas como esquecer de pagar as contas, tomar o remédio, ou algo do gênero", explica o especialista.
Como funciona a neuróbica?
A neuróbica consiste na inversão da ordem de alguns movimentos comuns em nosso dia a dia, alterando nossa forma de percepção, sem, contudo, ter que modificar nossa rotina. O objetivo é executar de forma consciente as ações que levam à reações emocionais e cerebrais. São exercícios que vão desde ler ao contrário até conversar com o vizinho que nunca dá bom dia, mas que mexem com aspectos físicos, emocionais e mentais do nosso corpo. "São esses hábitos que ajudam a estimular a produção de nutrientes no cérebro desenvolvendo suas células e deixando-o mais saudável", explica Mariuza Pregnolato.

Quanto mais o cérebro é treinado, mais afiado ele ficará, mas para isso não precisa se matar nos testes de QI ou nas palavras cruzadas para ter resultados satisfatórios. "Estas atividades funcionam, mas a neuróbica é ainda mais simples. Em vez de se inscrever em um super desafio de matemática e ficar decorando fórmulas, que tal vestir-se de olhos fechados ou andar de trás para frente?", sugere a especialista. A proposta da neuróbica é mudar o comportamento rotineiro para "forçar" a memória. Por isso, é recomendável virar fotos de cabeça para baixo para concentrar a atenção ou usar um novo caminho para ir ao trabalho.
                                                                          neuróbica

O papel dos sentidos
O programa de exercícios da neuróbica oferece ao cérebro experiências fora da rotina, usando várias combinações de seus sentidos - visão, olfato, tato, paladar e audição, além dos "sentidos" de cunho emocional e social.

"Os exercícios usam os cinco sentidos para estimular a tendência natural do cérebro de formar associações entre diferentes tipos de informações, assim, quando você veste uma roupa no escuro, coloca seus sentidos em sinal de alerta para a nova situação. Se a visão foi dificultada, e é isso que faz com que você sinta o efeito dos exercícios, outros sentidos serão aguçados como compensação", explica Mariuza.

Para estimular o paladar, uma dica bacana é fazer combinações gastronômicas inusitadas. Já pensou em misturar doce com salgado? Maionese com leite condensado?

Corpinho de 40 e mente de 20!
A neuróbica não vai lhe devolver o cérebro dos vinte anos, mas pode ajudá-lo a acessar o seu arquivo de memórias. "Não dá para aumentar nossa capacidade cerebral, o que acontece é que com os exercícios você consegue ativar áreas do seu cérebro que deixou de usar por falta de treino", explica Mariuza.

"Você só estimula o cérebro se o exercita, por isso quem sempre esteve atento a esta questão terá menos problemas de saúde cerebral, como demência e doenças cognitivas, como Alzheimer".

21 dicas para você montar seu treino
O desafio da neuróbica é fazer tudo aquilo que contraria ações automáticas, obrigando o cérebro a um trabalho adicional, por isso:

1-Use o relógio de pulso no braço direito;

2-Ande pela casa de trás para frente;

3-Vista-se de olhos fechados;

4-Estimule o paladar, coma comidas diferentes;

5-Leia ou veja fotos de cabeça para baixo concentrando-se em pormenores nos quais nunca tinha reparado;
6-Veja as horas num espelho;

7-Troque o mouse do computador de lado;

8-Escreva ou escove os dentes utilizando a mão esquerda - ou a direita, se for canhoto;

9-Quando for trabalhar, utilize um percurso diferente do habitual;

10-Introduza pequenas mudanças nos seus hábitos cotidianos, transformando-os em desafios para o seu cérebro;

11-Folheie uma revista e procure uma fotografia que lhe chame a atenção. Agora pense 25 adjetivos que ache que a descrevem a imagem ou o tema fotografado;

12-Quando for a um restaurante, tente identificar os ingredientes que compõem o prato que escolheu e concentre-se nos sabores mais subtis. No final, tire a prova dos nove junto ao garçom ou chef;
                                                                         neuróbica

13-Ao entrar numa sala onde esteja muita gente, tente determinar quantas pessoas estão do lado esquerdo e do lado direito. Identifique os objetos que decoram a sala, feche os olhos e enumere-os;

14-Selecione uma frase de um livro e tente formar uma frase diferente utilizando as mesmas palavras;

15-Experimente jogar qualquer jogo ou praticar qualquer atividade que nunca tenha tentado antes.

16-Compre um quebra cabeças e tente encaixar as peças corretas o mais rapidamente que conseguir, cronometrando o tempo. Repita a operação e veja se progrediu;

17-Experimente memorizar aquilo que precisa comprar no supermercado, em vez de elaborar uma lista. Utilize técnicas de memorização ou separe mentalmente o tipo de produtos que precisa. Desde que funcionem, todos os métodos são válidos;

18-Recorrendo a um dicionário, aprenda uma palavra nova todos os dias e tente introduzi-la (adequadamente!) nas conversas que tiver;

19-Ouça as notícias na rádio ou na televisão quando acordar. Durante o dia escreva os pontos principais de que se lembrar;

20-Ao ler uma palavra pense em outras cinco que começam com a mesma letra;

21-A proposta é mudar o comportamento rotineiro. Tente, faça alguma atividade diferente com seu outro lado do corpo e estimule o seu cérebro. Se você é destro, que tal escrever com a outra mão?

neuróbica


Hábitos saudáveis
Outra atitude indispensável para manter a memória sempre afiada, é prestar atenção na qualidade de vida. O neurologista Ivan Okamoto sugere um estilo de vida mais tranquilo, com alimentação balanceada, sem vícios e com a prática regular de exercícios físicos para manter o corpo e a mente saudáveis.

"A melhor maneira de manter a memória em dia é cuidar da saúde, por isso é importante evitar cigarro e bebidas alcoólicas, seguir uma dieta equilibrada, praticar exercícios e exercitar o cérebro. Manter a atividade mental, seja trabalhando ou participando de alguma atividade em grupo, ajuda a elevar a autoestima e deixar a memória a todo vapor", explica o especialista.




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17 janeiro 2012

Labirintos do Cérebro


A pesquisa relacionada ao cérebro está prestes a se tornar a disciplina líder do século XXI, como era a Física há 100 anos.

Nas últimas décadas, os avanços obtidos nessa matéria permitiram que, pela primeira vez na história humana, pudéssemos observar o que passa pelo cérebro enquanto tomamos uma decisão, meditamos, rimos, sentimos medo, rezamos, fazemos sexo, e assim por diante.
Isso abre aos pesquisadores horizontes completamente novos e, ao despertar o crescente interesse do homem pelo autoconhecimento, estimula ao mesmo tempo o desenvolvimento de uma ampla cadeia interdisciplinar de informações que passam a interessar, cada vez mais, também ao público leigo.
Essa é a constatação do biofísico alemão Carsten Könneker, Ph.D. em Física pela Universidade de Colônia, que nos últimos dois anos tem registrado, e estimulado, na revista "Gehirn&Geist" (Mente & Cérebro), editada na Alemanha pelo Grupo Scientific American, a crescente ampliação das abordagens que tentam explicar o comportamento humano por meio de diferentes disciplinas, que enfocam conjuntamente os aspectos neurológicos e emocionais.

Segundo Könneker, embora o interesse em relação a esse tema não seja novo - "as origens da alta cultura humana refletem isso, como a filosofia grega e sua ânsia de saber mais sobre a mente, o ego, a alma, o eu, e assim por diante", ele afirma -, desta vez o nosso conhecimento sobre essas questões está muito próximo de um boom em todo o mundo.

Könneker diz que a cada dia surgem novas técnicas e que há uma disposição crescente de diferentes disciplinas científicas em compartilhar com outras especialidades o conhecimento que acumularam sobre a mente e o cérebro humanos de forma que possam trabalhar em conjunto em novos projetos de pesquisa. "O imenso progresso que a neurobiologia trouxe para a humanidade em relação a esses assuntos também instiga e desafia as disciplinas mais tradicionais que focalizam a questão do que nos torna humanos, como a psicologia ou a filosofia.
Por esse motivo, vemos na Europa e nos Estados Unidos um número cada vez maior de programas de pesquisa interdisciplinares voltadas para a mente e o cérebro, nos quais psicólogos, lingüistas, médicos, terapeutas, biólogos, entre outros, trabalham juntos."

Esse constitui um dos desafios mais palpitantes entre os estudiosos, segundo o biofísico, para quem fica cada vez mais comprovada a impossibilidade de esgotar todos os recursos necessários à abordagem do ser humano na prevenção de doenças e na promoção da saúde utilizando um único aspecto do conhecimento. Desde a "descoberta" da psicossomática, até as recentes pontes criadas entre a psicanálise e as neurociências, cada vez mais profissionais vêm reafirmando a necessidade de um diálogo interdisciplinar.
Isso porque, no entendimento desses especialistas, os complexos comportamentos humanos requerem abordagens igualmente complexas, que envolvem as diferentes disciplinas que se dedicam a decifrar as maneiras pelas quais pensamos e agimos, na tentativa de construir um quadro capaz de fornecer inteligibilidade ao nosso mundo interior.
"O avanço da neurociência trouxe a união de diferentes disciplinas como a psicologia, a lingüística, a medicina e a biologia, que passaram a compartilhar conhecimentos e a trabalhar em conjunto em novos projetos de pesquisa", relata Könneker.
"Hoje, em praticamente todas as grandes cidades do mundo, há grupos interdisciplinares reunindo representantes de campos antes distantes, e muitas vezes contrários, da neurociência e da psicanálise." Trabalhando em conjunto com a psicanálise, neurocientistas descobriram, por exemplo, que as descrições biológicas do cérebro funcionam melhor se combinadas às teorias delineadas por Sigmund Freud há um século.
Os estudiosos revelaram provas de algumas das teorias do criador da psicanálise e desvendaram os mecanismos mentais descritos por ele. A neurociência mostrou que as principais estruturas cerebrais essenciais para a formação de memórias conscientes não são funcionais durante os primeiros anos de vida, explicando o que Freud chamou de amnésia infantil. Como supôs o pensador austríaco, não é que tenhamos esquecido nossas lembranças mais antigas; simplesmente não conseguimos trazê-las de volta à consciência. Mas essa incapacidade não as impede de afetar os sentimentos e o comportamento adultos.
A abordagem interdisciplinar, segundo Könneker, está refletida na cobertura das questões científicas pelos meios de comunicação. Ele diz que hoje, as diferentes mídias abordam os temas da consciência, livre arbítrio, emoções e doenças psicológicas ou psiquiátricas, reunindo os pontos de vista de diferentes especialidades numa linguagem acessível mesmo para aqueles que não estudaram psicologia, medicina ou biologia. "Há um crescente interesse das pessoas em todo o mundo sobre questões que tentam explicar o comportamento humano com base nos aspectos emocionais e neurológicos.


E isso impulsiona toda uma cadeia de informação voltada também para o público leigo, que envolve os vários meios de comunicação." De acordo com Könneker, que falou com exclusividade para o "Fim de Semana", quando esteve em SP para o lançamento de "Viver Mente & Cérebro"-  a edição brasileira da "Gehirn&Geist"-  existem em quase todos os países europeus, além de publicações especializadas, diversos programas de rádio e de TV que cobrem questões científicas, indo da astrofísica à zoologia, incluindo arqueologia, química e alta tecnologia, além de pesquisa sobre o cérebro e psicologia.
"Hoje existe uma expectativa claramente definida em todo o mundo por parte do público interessado nesse tipo de publicações e programas", diz o biofísico. "Essas pessoas buscam abordagens idôneas, informativas e interdisciplinares, cujos autores sejam em sua maioria cientistas de ponta, que as ajudem a conhecer melhor a si mesmas."
Ele destaca que nesse mercado existem várias publicações cujo enfoque se restringe quase que exclusivamente à psicologia - como a "Psychologie Heute", na Alemanha, ou a "Psychology Today", nos Estados Unidos - e umas poucas que refletem as abordagens interdisciplinares, como a revista "Neuro-Psychoanalysis", editada pela Sociedade Internacional de Neuropsicanálise, além da própria "Gehirn&Geist", que além da Alemanha é publicada também na França, Itália, Espanha, Polônia e Estados Unidos, e agora chega ao Brasil editada pela Duetto Editorial.
Könneker justifica o interesse do público por essas novas abordagens. "Quem não se fascina pela capacidade que o cérebro humano tem para cumprir tarefas relacionadas com memória, aprendizado, linguagem, fé, humor e capacidade de perceber o que os outros pensam?", pergunta, lembrando que esse fascínio levanta também questões que até há pouco tempo não estavam entre as preocupações dos estudiosos.
"Alguns pesquisadores de ponta que estudam o cérebro alegam que essa disciplina pode até modificar nossa visão tradicional do gênero humano. Alguns defendem, por exemplo, que não há mais o livre arbítrio, porque as decisões que tomamos são preparadas pelo nosso cérebro. Se isso se tornar um juízo comum", conclui, "haverá um forte impacto sobre nosso sistema legal e, certamente, reflexos importantes no aspecto religioso."

Fonte: (Gazeta Mercantil, 1/10)
In: http://www.sbneurociencia.com.br/html/a9.htm, acesso em 16.11.2012
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