24 janeiro 2013

Deficiente físico SIM! De caráter NÃO!

by Mari Hart, mãe polvo

"Esse é um daqueles posts relacionados ao publicado na última segunda-feira, mas que eu não gostaria de precisar jamais escrever novamente. Pode parecer repeteco, e de fato- é. Mas enquanto eu existir e tiver forças, irei fazê-lo. Não só por ser mãe do Leo, um menino lindo tetraplégico de 6 anos de idade. Mas por todos, pelo mundo, pelo futuro dos meus outros filhos tb e das pessoas que amo. A mesma cena, só mudam os personagens. E a pergunta continua inevitalmente:

Até quando?! (assim mesmo, GRITANDO, em capslock!)

Início de tarde, resolvi encarar a aventura de ir ao cinema sozinha com meus gêmeos. Pode parecer simples e fácil para qualquer mãe, mas não para uma mulher que tem como a extensão do corpo do filho, uma cadeira de rodas. No estacionamento haviam vagas disponíveis, preferenciais e 'comuns', afinal, ainda era cedo sem muito movimento naquele famoso shopping carioca, o New York City Center, continuação do Barra Shopping. Faço questão de dizer os nomes.

Ao estacionar, enquanto eu retirava a cadeira de rodas de Leo da mala do carro, o posiconava, e instruía Pedro em como sair de sua cadeirinha, percebi uma mulher guardando suas compras em seu carro, estacionado na vaga reservada a deficientes. Muito mal estacionado por sinal, estava atravessado, ocupando tb a parte destinada a montagem das cadeiras. Meu dever será sempre alertar. Quer dizer, mais do que dever, missão de uma mãe de criança com paralisia cerebral.

- "Oi tudo bem!? Essa vaga é para deficientes, vc viu?!"
- "É, eu sei! Mas tem muita vaga por aí!"
- "Pois é! Se todos pensarem assim, quando chegar um deficiente, não terá vaga para ele!"

 E ela retrucou:

- "Hãn, até parece que vai chegar um monte de deficiente ao mesmo tempo." E deu de ombros, um sinal de 'tanto faz'.

Com certeza esta moça, não percebeu que as vagas são maiores para a montagem de cadeira de rodas, de mais fácil acesso ao shopping, e mais perto das entradas. Mas o egoísmo e egocentrismo falam mais alto. É a tal da ignorância por opcão, para mim, o pior tipo. Para ela muito cômodo, mas e se fosse ao contrário!? Pois bem. Depois dela desdenhar, eu passei com meus filhos e disse:

- "É para deficientes físicos, e não de caráter!" E a "senhora da razão",
respondeu com bastante raiva:

 - "Ah, vai te catar!"

Se até ali meu sangue estava quente, depois desta ferveu. Borbulhou. Enquanto isso ela já havia guardado suas compras com um ajudante. Pq sim, ela tinha ajudante para guardar suas futilidades e eu retiro e coloco diariamente a cadeira de rodas de Leo que pesa por volta de 22kg na mala. Não me contive e começou a baixaria. Xingamentos horrorosos que não cabem a um blog de família como este, deixo pela imaginação de vcs. Tb tenho a pela noção de que não é o correto a ser feito, pois acabo perdendo minha razão. Ela ainda parou o carro para brigar perguntando; "Como é que é?!" E eu repeti tudo. E segui minha vida, afinal, tínhamos horário para o filme.

Eu respirava fundo, tinha proposto um passeio bacana com meus filhotes e não queria me deixar abalar. E então Pedro disse: "Mãe, não é assim que se fala com as pessoas! É assim que vc quer fazer amigos!? Isso é bullying sabia!?" Precisei conversar com ele, dizendo que realmente xingamentos são errados, e dei-lhe quase total razão, se não fosse um porém; não preciso de amigos deste tipo. Mas ao mesmo tempo, expliquei que precisamos sempre lutar pelos nossos direitos, pelo correto e o quão grave foi a falha daquela pessoa.

Do fundo do meu coração, admito. Gostaria de ter toda essa inocência dele, que foi perdida em mim pelo desrespeito, descaso, falta de humanidade alheia. E mais ainda. Desejaria que aquela pessoa, protagonista do terrível ato, tivesse ao menos 1% da sensibilidade de meu filho de 6 anos. Tenho certeza que todos seríamos muito mais felizes. Quando voltamos do filme, já a tardinha, TODAS as vagas estavam ocupadas e se vcs acham que por deficientes, estão enganados. Provavelmente, todos pensaram como ela "tem outras por aí", e lotou. 

Há um tempo fiz uma campanha de conscientização sobre a importância dessas vagas. Minhas comadre- Camila Góes, uma mulher comum como eu, cadeirante, certa vez escreveu aqui um 'guest post' contando um fato dentro deste contexto, que vale a pena ler de novo. O post chama-se "Procurando vaga"(é só clicar!) Vale a leitura. Na mesma época, fiz panfletos com o intuito de serem deixados no pára-brisa dos carros que cometem este crime, não previsto em lei, mas o crime contra a dignidade do outro. Pois é assim que me sinto a cada vez que me deparo com estas cenas; violentada.

Muitos devem estar pensando "ué, mas existe uma lei que multa!". Sim, mas vale somente para estacionamentos públicos e não privados. E afirmo mesmo assim, não funciona! Tenho relatos de amigos que podem provar. Acho que nosso direito só vai fazer valer quando doer no bolso dos tais deficientes de caráter. Já que não posso mudar o mundo sozinha, compartilho aqui com vcs a "multa moral" que já é usada em shoppings de cidades como São Paulo, e me foi enviada há algum tempo por uma amiga paulistana e o uso até hoje. Para quem quiser ajudar nesta campanha, aqui está. Pq juntos, somos mais fortes. E precisamos nos unir, não só pelos "Leos" e "Camilas" da vida, mas por uma vida mais justa. Para todos nós.



Nota; Tirei foto do carro da fulana, e publiquei me meu Facebook aberto a público. Não darei ibope a esse tipo de gente aqui. Mas para quem quiser ver, está lá."

In:http://contosmamaepolvo.blogspot.com.br/2013/01/deficiente-fisico-sim-de-carater-nao.html

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