"Desde 1930, pesquisas têm demonstrado que recursos
nutricionais em excesso, que resultam em condições como a obesidade e a
diabetes, podem ser tóxicos para o cérebro. Por outro lado, dietas mais
restritivas promovem uma série de efeitos protetores complexos que previnem
doenças relacionadas à idade e, consequentemente, prolongam a vida.
Já discutimos em artigos anteriores como o exercício físico
regular ajuda a proteger o cérebro do declínio de habilidades associado à
idade. Em um estudo recente, publicado na revista Nature Reviews Neuroscience,
o autor argumenta que a dieta é tão importante quanto. Para defender seu ponto
de vista, ele cita resultados que demonstram que o jejum intermitente –feito em
dias alternados – pode proteger o cérebro dos adultos. Mas como deixar de comer
a cada 24 horas pode ser benéfico para o cérebro?
Segundo o neurocientista, o jejum é um desafio para o
sistema nervoso e, se analisado sob a perspectiva da evolução, os animais
(inclusive nossos ancestrais) geralmente tinham que passar longos períodos sem
comida. Se o seu corpo fica sem comida por um tempo, sua mente tem que ficar
mais ativa, para lhe ajudar a encontrar uma maneira de obter comida.
Essa atividade mental aumentada foi comprovada através do
estudo com camundongos. O jejum intermitente resultou em efeitos protetores do
cérebro, como o aumento do nível do fator neurotrófico derivado do cérebro
(BNDF), bem como o de antioxidantes, enzimas reparadoras de DNA e outras
substâncias que ajudam a promover a plasticidade e a sobrevivência dos
neurônios.
Alguns estudos recentes sugerem que uma dieta de baixa
caloria promove a saúde, principalmente com relação a algumas doenças, como o
Alzheimer, Parkinson e AVC. Porém os pesquisadores desse último estudo
argumentam que, em se tratando do cérebro, a restrição calórica tem pouco
efeito. Já o jejum intermitente promove o aumento da neurogênese, efeito até
então obtido só com exercícios físicos.
Até o momento, apenas dois pequenos estudos testaram os
efeitos do jejum intermitente em humanos. Um avaliou seu efeito sobre pessoas
com asma e outro sobre mulheres com alto risco de câncer de mama, e ambos
mostraram efeitos animadores. Nesses estudos, o jejum intermitente consistia em
dieta livre num dia e restrição calórica (aproximadamente 600 calorias) no
outro.
Os neurocientistas planejam agora um estudo envolvendo o
cérebro humano, com enfoque em pessoas com risco elevado de declínio cognitivo
associado à idade. A expectativa é que obtenham resultados positivos,
demonstrando efeitos protetores concretos no cérebro, similares aos dos estudos
em camundongos.
Entretanto, não há motivo para todos começarem a fazer jejum
ainda, pois existem muitas coisas desconhecidas sobre a relação da ingestão
calórica e o cérebro. Trata-se de um mistério para os cientistas, pois é sabido
que doenças como a anorexia são muito tóxicas para o corpo e para o cérebro.
Não se sabe quando ou como esses processos passam de saudáveis para serem não
saudáveis. Portanto, a melhor coisa a fazer para se ter corpo e mente saudáveis
é seguir uma dieta balanceada, acompanhada de exercícios físicos, assim como
exercícios para o cérebro."
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