24 julho 2012

Brinquedo para Todos


Brincar é ser tudo, é ser todos, é ser e ir além, é fluir, sobrevoar, rodar, cantar, gritar, sonhar


CIRCUITO DE INTEGRAÇÃO COGNITIVO-MOTOR-SENSORIAL: Brinquedo Para Todos 




Este circuito se apresenta como uma inovação absoluta no oferecimento de estimulação de alto impacto neuroplástico como vamos justificar, para os indivíduos com lesões neuromotoras graves, particularmente bebes, crianças e adolescentes com Encefalopatias Crônicas, Traumas Cranianos,  e quaisquer outros agravos neurológicos não evolutivos.

Toda ação do ser humano no espaço tridimensional e antigravitacional está relacionada com o Sistema Vestibular e a Cinestesia.
Os inputs que se originam no sistema vestibular e somatosensorial têm um papel fundamental na criação de modelos eficazes para o controle postural necessário para a orientação corporal frente à gravidade e ao meio ambiente.

O feedback sensorial resultante do movimento permite adaptações das ações motoras frente a diferentes situações, demandas e tarefas e é facilitador da aprendizagem motora e cognitiva. (Gazzaniga, 1997) (Jensen, 2000).

Assim, o movimento está  presente no ser humano impregnado de sensações dos sistemas sensoriais: somático (propriocepção, tacto, nocicepção, pressão e temperatura), vestibular, visual, auditivo e gustativo.  (Shumnway-Cook, 1995).
Pesquisadores registram que distúrbios do sistema vestibular causam maiores dificuldades de aprendizagem. Se uma criança mantém sua cabeça imóvel por longos períodos de tempo (como quando vê TV, ou joga videogame) o sistema vestibular pode degenerar-se. (Hannaford 1997).

Todo nosso relacionamento com o meio que nos cerca é uma constante ação cognitiva: captação, recepção, codificação, armazenamento, decodificação e atuação. Esses são os caminhos dos estímulos motores e sensoriais que quando são interpretados cognitivamente são adicionados às experiências passadas e presentes, criando feedback e feedforward, para as ações que realizamos e que enfrentaremos no futuro.
“Penso (e sinto), logo existo” Decartes

Essas respostas adaptativas que a criança processa através da experimentação cada vez mais ampla em graus, tipos e combinações de informações sensoriais, são impregnadas de objetivos e intenções e resultam em uma modificação do meio ambiente. Essas experiências são armazenadas pelo SNC, e serão as memórias sensoriais resgatadas em experimentações futuras (Cohen 1999).      



A Neurociência compreende também hoje que os aportes cognitivos ampliam aportes motores, que os aportes sensoriais ampliam aportes cognitivos e vice-versa sucessivamente. (Damásio, 2000) (Jensen 2000). Dessa forma os estímulos do sistema sensorial podem facilitar ou inibir todo o organismo. Um estímulo de qualquer sistema influencia todos os demais.
Quando falamos em influência, estamos falando em facilitação e inibição. Não existe sistema isolado, o SNC se integra e se modela como um todo. ( Nicolelis 2011)
Terapeuticamente compreendemos que poderemos influenciar sistemas comprometidos a partir de sistemas não comprometidos. Sabemos também que habilidades isoladas desenvolvidas para uma necessidade tendem a não se generalizar para outras situações, por isso a importância do desenvolvimento integrativo. (Oliveira e cols.2001) ( Nicolelis 2011)
Quando ensinamos uma criança a realizar o movimento de forma mais harmoniosa, com melhor aproveitamento energético e mecânico, os músculos ficarão mais fortalecidos e poderão repetidamente, em atividades de interesse da criança, ir gradativamente se fortalecendo e iniciar os primeiros movimentos voluntários, base para a recuperação.



 

Tem sido uma preocupação nossa, como inventores, criar tecnologias que possam intermediar essa situação. Nos últimos 22 anos estamos projetando diversos dispositivos para posicionar, facilitar e desenvolver padrões motores.
Entendemos que com a tecnologia se consegue reproduzir os “exercícios” de uma maneira sistematizada e controlada e sem tantas variáveis. (Nicolelis 2011)
A utilização de um determinado recurso terapêutico favorece a compreensão do aplicador, bem como do usuário. Reproduz fielmente o movimento solicitado. Agrada ao usuário, que vê no recurso tecnológico, um aliado e um multiplicador de capacidade A concepção da tecnologia como integradora de uma discapacidade é muito bem aceita. ( Nicolelis 2011)

O Circuito de Integração Sensório-Motor baseia-se na coletânea de pesquisas e observações que centenas de pesquisadores, educadores e terapeutas vêm realizando em todo o mundo, ao observar as crianças “brincando em um parque”.




Todos temos fortemente registrado na nossa  memória emocional a felicidade que sentimos, quando pequenos, de estar brincando nos parques, junto dos amigos, fortemente influenciados pelo prazer de ir além daquele espaço e ir para um mundo imaginativo cheio de poderes especiais.
Como citamos, vários estudos e pesquisas mostram que ao ativarmos os circuitos vestibulares, através das manobras para provocar re-equilíbrio durante as brincadeiras num parque (girar, rodopiar, subir, descer, ascender, descender, correr, pular, fazer cambalhota, etc.) estamos desenvolvendo novas rotas motoras, sensoriais e cognitivas.
Em cada elemento tecnológico que desenvolvemos, buscamos gradativamente e criteriosamente dosificar a quantidade de estímulo cinestésico-vestibular que iremos oferecer, em conjunto com movimentos e sensações.
“Brinquedo para Todos” são equipamentos para promover o brincar, brincar como fonte de pura diversão, alegria, motivação;  brinquedos cuja utilização, de forma indireta terapeuticamente, reverta em modificação das estruturas neurais, em espessamento do córtex cerebral, promovendo no individuo que os utiliza frequentemente, um aumento da capacidade integrativa de seu cérebro.
“Brinquedo para Todos” são brinquedos inovadores, futurísticos, especialmente calibrados para a aventura do poder fazer, tão lúdicos e não menos terapêuticos, serão uma nova forma de  brinquedos que estabelecerá novos paradigmas no “tratar” das pessoas com deficiências.
Gisleine Martin Philot, Terapeuta Ocupacional
Consultora Internacional em Tecnologia Assistiva

 Referência Bibliográfica 
Ayres, A.J. Sensory integration and the child, Los Angeles, Western Psychological Services, 1979.
Blanche,E.I., Botticelli,T.M., Hallway,M.K.Combining neuro-developmental treatment and sensory integration principles an approach to pediatric therapy, Arizona, The Psychological Corporation, 1995.
Bly,L. A historical and current view of the basis of NDT, Pediatric Physical Therapy, 3:131-135., 1991
Brodal, A. Anatomia Neurológica com correlações clínicas, São Paulo, Editora Roca Ltda, 1997.
Cohen, H. Neurosciense for Rehabilitation, Texas, Lippincott Williams & Wilkins, 1999.
Diamond, M. e Hopson, J. Árvores Maravilhosas da Mente, Rio de Janeiro, Editora Campus, 2000.
Damásio, A. R. O erro de descartes, emoção, razão e o cérebro humano, São Paulo, Companhia das Letras, 2000.
Fisher, A. G., Murray, E.A., Bundy, A. C.  Sensory Integration, Theory and Pratice, Philadelphia, F. A. Davis Company, 1991.
Gazzaniga, M.S. (ed.) The cognitive neurosciences, The MIT Press, Massachusetts, 1997.
Hannaford, C. Smart Moves, why learning is not all in your head, Arlington, Great Ocean Publishers, 1995.
Hannaford, C. The dominance factor: how knowing your dominant eye,ear,brain,hand & foot can improve your learning, Arlington, Great Ocean Publishers, 1997.
Jensen, E. e Dabney, M. Learning Smarter, San Diego, The Brain Store, Inc, 2000.
Kandel, E.R., Schwartz J.H., Jessell T.M. Fundamentos da neurociência e do comportamento, Rio de Janeiro, Editora Prentice-Hall do Brasil Ltda, 1997.
Kolk, H. H. J. Multiple Route Plasticity, Brain and Language, 71 : 129-131, 2000.
Nicolelis, M. Muito além do Nosso Eu, São Paulo, Companhia das Letras, 2011.
Oliveira, C.E.N., Salina, M.E. e Annunciato, N.F.  Fatores Ambientais que influenciam a plasticidade do Sistema Nervoso Central, Acta Fisiátrica, 8(1): 6-13, 2001.
Philot, G.M. Recursos Tecnológicos: coadjuvantes terapêuticos, Medicina de Reabilitação 49(1): 22-26, 1999.
Shumway-Cook, A. e Woollacott, M. Motor Control, Theory and practical applications, Baltimore, Lippincott Williams & Wilkins, 1995

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