Não faz muito tempo que era senso comum pensar que uma
pessoa era produtiva somente até os 40 anos de idade, como se a capacidade
intelectual, criatividade e inovação tivessem prazo de validade. Da mesma
forma, acreditava-se que os neurônios simplesmente morriam sem serem renovados,
ou que a capacidade de aprendizado era perdida ao longo dos anos.
Eric R.Kandel neurocientita - premio nobel - estudos sobre a memória
É claro que algumas habilidades diminuem quando se
envelhece, mas algumas pessoas são melhores em retardar essas perdas do que
outras. E pesquisadores querem entender o porquê. Por que seu vizinho de 70
anos consegue ter uma memória igual à de uma pessoa com metade dessa idade,
enquanto seu parente de 40 anos tem a memória de um idoso?
De acordo com pesquisas recentes, um elemento essencial para
a boa forma mental já foi identificado. A educação parece ser um elixir que
pode proporcionar mente e corpo saudáveis ao longo da vida adulta e também uma
vida mais longa. Para aqueles que estão na meia idade ou além, um diploma de
faculdade parece retardar o processo de envelhecimento cerebral em até uma
década.
Essa é uma das descobertas de um estudo enorme que está
sendo conduzido nos EUA desde os anos 90, chamado de MIDUS (sigla para Meia
Idade nos Estados Unidos). O que torna esse estudo particularmente valioso é
que os pesquisadores podem rastrear a mesma pessoa por um longo período de
tempo para ver quais habilidades estão piorando e quais estão melhorando.
Muitos pesquisadores acreditam que a inteligência humana
consiste em dúzias de habilidades cognitivas variadas, as quais eles geralmente
dividem em duas categorias: inteligência fluida e inteligência cristalizada.
As habilidades que caem na categoria de “inteligência
fluida” são aquelas que produzem soluções não baseadas em experiência, como
reconhecimento de padrões, memória de trabalho e raciocínio abstrato,
justamente o tipo de inteligência avaliada nos testes de QI. Essas habilidades
tendem atingir seu pico entre os 20 e 30 anos de idade.
Por outro lado, a “inteligência cristalizada” geralmente se
refere às habilidades que são adquiridas através da experiência e educação,
como habilidade verbal, raciocínio indutivo e julgamento. Enquanto a
inteligência fluida é por muitos considerada principalmente um produto da
genética, a inteligência cristalizada é mais dependente de influências
diversas, como personalidade, motivação, oportunidade e cultura.
Num estudo publicado nos últimos anos, pesquisadores
provaram que, quando se trata de sabedoria, a experiência pode ser mais importante
que a biologia, principalmente na resolução de conflitos e dilemas sociais.
Eles descobriram que, apesar da queda na inteligência fluida, raciocínios
complicados que envolvem pessoas, questões morais ou instituições políticas
melhoram com a idade.
Voltando ao estudo MIDUS, os pesquisadores queriam saber se
algo podia ser feito para frear esse aparentemente contínuo declínio da
inteligência fluida ao longo dos anos. Então eles desenvolveram diversos testes
de memória, cálculo e raciocínio que poderiam ser aplicados nos milhares de
participantes.
Como previsto, pessoas com mais de 50 anos tiveram um pior
desempenho nos testes de memória e velocidade de raciocínio do que pessoas mais
jovens. O cérebro envelhecido era mais facilmente distraído e mais lento em
resgatar informações. Mulheres geralmente eram melhores que os homens no teste
de lembrar uma lista de palavras, enquanto que os homens eram melhores em
encontrar padrões numéricos e reagir rapidamente a alterações de instruções.
Os mais consistentes resultados envolviam a educação.
Igualando todos os demais fatores, quanto mais anos de escola um indivíduo
tinha, melhor ele ou ela desempenhava em todos os testes mentais. Até os 75
anos de idade, os indivíduos com diploma de ensino superior conseguiam um
desempenho em tarefas complexas igual a indivíduos dez anos mais jovens com
menos educação. Além disso, a educação estava associada a uma vida mais longa e
a um menor risco de demência.
Numa outra análise, os pesquisadores descobriram que os
indivíduos podiam compensar as desvantagens educacionais. Todos os que
regularmente desafiavam seus cérebros – lendo, escrevendo, assistindo palestras
ou fazendo jogos – tinham um melhor desempenho em inteligência fluida do que
aqueles pouco adeptos a desafiar o cérebro.
O treinamento mental regular pode realmente alterar os
circuitos neurais do cérebro em qualquer idade, estimulando regiões do cérebro
responsáveis por habilidades como memória, aprendizado e tomada de decisão.
Em ainda outra análise, os pesquisadores mostraram que
adultos, particularmente os homens, com baixo nível de educação podiam também
melhorar o desempenho mental simplesmente usando um computador.
Quando a equipe do MIDUS reuniu todos os dados, eles notaram
outras semelhanças entre os indivíduos com fortes habilidades cognitivas.
Idosos que desempenhavam tão bem quanto jovens adultos em inteligência fluida
costumavam compartilhar, além de um diploma de ensino superior e a prática
regular de exercícios mentais, as seguintes características:
• Eles faziam
exercícios físicos frequentemente;
• Eles eram
socialmente ativos, vendo amigos e familiares, voluntariando e participando de
reuniões frequentemente;
• Eles eram
melhores em se manter calmos diante de situações estressantes;
• Eles se sentiam
mais em controle das suas vidas.
Numa época em que a perspectiva de uma vida mais longa é
atormentada pelo medo do declínio mental, a possibilidade de termos algum
controle sobre esse declínio com uma boa forma mental é reconfortante.
Acessado em 25.05.2012
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