O texto abaixo do blog "LIBRAS a poesia com as mãos", escrito por Loise Costa é de 2011, mas continua muito atual pois há ainda muito desconhecimento do aprendizado linguístico dos bebes e crianças surdas.
"Não se tem registro de quando os
homens começaram a desenvolver comunicações que pudessem ser consideradas
línguas. Hoje a raça humana está dividida nos espaços geográficos delimitados
politicamente e cada nação tem sua língua ou línguas oficiais como por exemplo,
o Canadá que possui a língua inglesa e a francesa. Os países que possuem
somente uma língua oficial são politicamente monolíngües, os que possuem duas
são bilíngues e os que possuem mais de duas, multilíngües.
Mas em todos os
países, existem minorias lingüísticas que por motivo de etnia e/ou emigração
mantém suas línguas de origem, embora as línguas oficiais dos países onde estas
minorias coabitam ou politicamente fazem parte sejam outras. Este é o caso das
tribos indígenas no Brasil e nos Estados Unidos e dos imigrantes que se
organizam e continuam utilizando suas línguas de origem, como nos Estados
Unidos e na França.
Os indivíduos destas minorias geralmente são discriminados
e precisam se tornar bilíngues para poderem participar das duas comunidades.
Pode-se falar do bilinguismo social e individual, o primeiro é quando uma
comunidade por algum motivo precisa utilizar duas línguas, o segundo é a opção
de um indivíduo para aprender outra língua além da sua materna.
Geralmente os
membros das minorias linguísticas se tornam indivíduos bilíngues por estarem
inseridos em comunidades linguísticas que utilizam línguas distintas. Em todos
os países os Surdos são minorias linguísticas como outras, mas não devido a
imigração ou à etnia, já que a maioria nasce de famílias que falam a língua
oficial da comunidade maior, a qual também pertencem por etnia; eles são
minoria linguística por se organizarem por associações onde o fator principal
de integração é a utilização de uma língua gestual-visual por todos os associados.
Sua integração está no fato de terem um espaço onde não há repressão de sua
condição de Surdo, podendo se expressar da maneira que mais lhes satisfazem
para manterem entre si uma situação prazerosa no ato da comunicação. Quando
imigrantes vão para outros países formando guetos a língua que levam geralmente
é a língua oficial da sua cultura, sendo respeitada enquanto língua no país onde
imigram, mas as línguas dos Surdos por serem de outra modalidade -
gestual-visual - e por serem utilizadas por pessoas consideradas
"deficientes" por não poderem na maioria das vezes expressarem-se
como ouvintes eram desprestigiadas e até bem pouco tempo proibidas de serem
usadas nas escolas e em casa de criança surda com pais ouvintes.
Este
desrespeito fruto de um desconhecimento gerou um preconceito e pensava-se que
este tipo de comunicação dos surdos não poderia ser língua e se os surdos
ficassem se comunicando por "mímica" eles não aprenderiam a língua
oficial de seu país. Mas as pesquisas que foram desenvolvidas nos Estados
Unidos e na Europa mostraram o contrário.
Se uma pessoa surda puder aprender a
língua de sinais da sua comunidade surda à qual será inserida, ela terá mais
facilidade em aprender a língua oral-auditiva da comunidade ouvinte a qual
também pertencerá porque nesse aprendizado que não pode ouvir os sons que
emite, ela já trará internalizado o funcionamento e as estruturas linguísticas
de uma língua de sinais a qual pôde receber em seu processo de aprendizagem um
feed-back que serviu de reforço para adquirir uma língua por um processo
natural e espontâneo.
Isso ocorre porque todas as línguas se edificam a partir
de universais linguísticos variando apenas em termos de sua modalidade
(oral-auditiva ou gestual-visual) e suas gramáticas particulares, transformando-se
a cada geração a partir da cultura da comunidade linguística que a utiliza.
Daí
é preconceito e ingenuidade dizer hoje que uma língua é superior a qualquer
outra já que ela enquanto sistemas linguísticos independem dos fatores
econômicos ou tecnológicos, não podendo ser classificadas em desenvolvidas,
subdesenvolvidas ou ainda primitivas. As línguas se transformam a partir das
comunidades lingüísticas que a utilizam.
Uma criança surda precisará se
integrar a Comunidade Surda de sua cidade para poder ficar com um bom
desempenho na língua de sinais desta comunidade. Como os surdos estão em duas
comunidades precisam manter esse bilingüismo social e uma língua ajuda na
compreensão da outra."
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